Folha de S. Paulo


Cinema pornô vira refúgio de frequentadores da Virada assustados com violência

Pouco depois da 1h deste domingo (19), os banheiros do Cine Dom José estavam abarrotados com o público que entrava no prédio fugindo da violência na região e nada interessado na programação obscura de filmes japoneses de teor erótico.

Aliás, o filme em exibição na hora não parecia corresponder ao que estava previsto na programação.

Enquanto o site da Virada Cultural prometia para a a virada deste sábado para domingo o filme "Um Belo Mistério: A Lenda do Grande Pênis", o que se projetava na tela era "Êxtase dos Anjos", uma trama de espionagem, violência exagerada e sexo um tanto risível.

Na sala com cheiro de essência de eucalipto, ou talvez com esse perfume para mascarar o cheiro de mofo, havia um entra e sai de homens e mulheres, uma clara mistura entre habitués do cinema que costuma exibir filmes pornográficos durante a semana e o público de curiosos da Virada Cultural.

Filme do gênero conhecido como "pink porn", ou pornô cor-de-rosa, esse oscilava entre cenas em preto e branco e coloridas, nada muito róseas. Entre surras homéricas, os personagens todos encontravam tempo para fazer sexo rápido e asséptico, enquanto travavam intensas discussões filosóficas sobre táticas de guerrilha.

Lá fora, a Virada ia ficando mais violenta, com gritos e sons de garrafas quebrando. Dentro do cinema, uma reinvenção do gênero pornográfico com pretensões de nouvelle vague, misturando um público de classe média, andarilhos do centro e homens mais interessados em sexo real do que pornografia --bastava ver os avisos de que é proibido fazer programa no local.


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