Folha de S. Paulo


Filme "Somos Tão Jovens" faz licenças poéticas sobre Renato Russo

Mais de um milhão de pessoas já se apaixonaram pela amizade entre Aninha e Renato Russo no filme "Somos Tão Jovens", mas nem todas sabem que Aninha não existiu --existiram a Susie, a Ana Cristina, a Helena, a Cássia...

A personagem, interpretada pela atriz Laila Zaid, é a junção de várias garotas importantes da vida do líder da Legião Urbana.

"Susie era a melhor amiga do Renato na época do colégio, eram apaixonados um pelo outro", lembra Carmem Teresa Manfredini, irmão do músico, sobre a chinesa Ma Chia Hsien, filha de diplomatas.

Editoria de Arte/Folhapress

Manfredini lembra, inclusive, que Renato e Susie namoraram. "Eles faziam tudo juntos, tinham uma intimidade cultural, iam a balés etc."

Quem também desfrutava da intimidade de Renato na época do Marista, escola do então garoto, era Ana Cristina Pinto-Bailey, hoje professora de literatura latino-americana na universidade Washington & Lee, nos EUA. Ela lembra que costumava acampar com Renato, além de ir a bares e, é claro, a shows de rock.

Helena Lemos, irmã mais nova de Fê e Flávio, do Aborto Elétrico, ganhou de presente um mapa astral feito por Renato. "Nós dois conversávamos sobre outros assuntos além de punk, por isso ele gostava de mim", diz a bibliotecária que mora em Los Angeles.

"Aninha é uma amálgama de várias pessoas importantes para Renato, alguém que pudesse viver as descobertas com ele", diz o roteirista Marcos Bernstein.

"AINDA É CEDO"

Uma das cenas mais emocionantes de "Somos Tão Jovens" é quando Renato, interpretado com vigor por Thiago Mendonça, canta "Ainda É Cedo" como um pedido de desculpas para Aninha. Mas não foi bem assim a história.

"Já ouvi dizer que era sobre a cocaína, não sobre alguma menina", afirma Manfredini. "A única pessoa que pode responder isso com propriedade é o próprio Renato", brinca Marcelo Bonfá, ex-baterista da Legião.

"Pelo que eu saiba, a música foi feita para uma ex-namorada do Ico Ouro-Preto [ex-guitarrista da Legião]", diz Philippe Seabra, vocalista da Plebe Rude, outro destaque do rock de Brasília.

Uma cena polêmica do longa de Antonio Carlos da Fontoura mostra Seabra e outros amigos jogando moedas no palco de Renato na fase Trovador Solitário. "Isso aconteceu mesmo", diz. "Mas era tudo uma grande brincadeira, pois o som não agradava."

Seabra, consultor do filme, ainda lembra outro episódio mostrado de forma um pouco diferente da realidade: o famoso show na Festa do Milho de Patos de Minas.

"A Legião não cantou 'Que País É Este', mas 'Música Urbana 2', com letra tão pesada quanto", diz, cantarolando os versos "os PMs armados e as tropas de choque vomitam música urbana".

Também ficou de fora a ida da Legião e da Plebe para a delegacia para esclarecimentos após o show. "Ficamos quase duas horas detidos."

De todas as licenças poéticas do filme, Bonfá lembra a principal: "O som do filme parece uma orquestra sinfônica perto da realidade", brinca. "Era uma zona, todos os instrumentos ligados em um amplificador que parecia um cinzeiro [risos]."


Endereço da página: