Foi durante as filmagens de "Giovanni Improtta", que marca sua estreia como diretor, que José Wilker, 65, se deu conta da dimensão do personagem que volta a interpretar, depois do sucesso na novela "Senhora do Destino" (2004).
"O Giovanni é uma soma de vários personagens que eu já fiz", diz o ator e diretor, que recebeu a Folha em sua casa.
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"Ele tem a picardia e a ingenuidade do Lorde Cigano [de "Bye Bye Brasil"], tem o arrivismo e a ânsia populista do Tenório Cavalcanti [de "O Homem da Capa Preta"], tem um pouco de Roque Santeiro, do coronel Belarmino [da novela "Renascer"]."
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José Wilker em cena do filme "Giovanni Improtta" |
Essa mistura se reflete na estrutura do roteiro, fazendo com que o filme seja uma "comédia híbrida", na definição do produtor Cacá Diegues, 72.
"Como toda coisa híbrida, rende muito mais do que o puro. O puro não tem futuro, dali não sai nada. A comédia híbrida permite percorrer vários caminhos. Essa ausência de gênero é uma coisa extremamente moderna, e acaba sendo muito importante para o cinema brasileiro."
Parceiro de longa data de Diegues --desde "Xica da Silva" (1976), fez cinco filmes dirigidos por ele--, Wilker quis repetir a dobradinha, mas o cineasta se negou a dirigir.
"Estava na hora de ele estrear como diretor. O Wilker é um cinéfilo, filmou muito, fez muita televisão, certamente deve ser um grande diretor. Além disso, é um personagem que ele inventou."
O ator diz que resistiu à ideia e que o processo de dirigir e protagonizar o longa "foi muito difícil". Para facilitar, chamou velhos amigos.
"Eu me cerquei de pessoas nas quais tenho absoluta confiança. É evidente que eu dirigi o elenco, mas não tenho muito o que dizer para Hugo Carvana, Milton Gonçalves, Othon Bastos, Jô Soares. Não vou dirigir esses caras."
Segundo Wilker, a decisão de voltar ao bicheiro de fala excêntrica criado por Aguinaldo Silva se deu porque ele via no personagem um reflexo das mudanças por que passa o Rio.
"Giovanni, de alguma maneira, espelhava o Rio que estava nascendo, a ascensão de uma certa classe que não é aceita pela aristocracia carioca, mas que é a classe que impulsiona o novo Rio."