Folha de S. Paulo


Filme francês "Jeune et Jolie" exala sensualidade e revela musa em Cannes

Depois do ótimo "Dentro da Casa", lançado há poucas semanas no Brasil, o diretor francês François Ozon voltou para Cannes nesta quinta-feira (16) com o sensual "Jeune et Jolie" ("Jovem e Bonita"), retomando o tema do voyeurismo que tanto encontra-se presente em sua obra.

Mas a literatura e a metalinguagem, que serviram de força motriz para seu longa anterior, foram trocadas pelo sexo e pelo tema das descobertas adolescentes. Numa espécie de versão teen moderna "A Bela da Tarde", de Buñuel, Ozon cria um "drama sem drama" (no bom sentido) no qual sua protagonista, vivida pela belíssima modelo Marine Vacth, não sai do controle por nenhum segundo.

"Ela não pede desculpas e não faz o que faz por prazer ou para ganhar dinheiro, mas para experimentar", diz a musa instantânea Marine, em entrevista para a imprensa mundial em Cannes, sobre sua personagem, uma menina de 17 anos que decide se prostituir, apesar de não precisar de dinheiro ou afeto.

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"Jeune et Jolie" é dividido em quatro estações do ano e sempre toca uma canção de Françoise Hardy para ilustrar o momento de Isabelle: "L'Amour d'un Garçon", escrita em 1963, traça paralelo com a perda da virgindade da garota em um verão na praia; "A Quoi ça Sert" (1968), sua primeira experiência como garota de programa em Paris; "Premiére Rencontre" (1973), sobre o encontro com um colega de escola; e "Je Suis Moi" (1974), a conclusão fora de qualquer julgamento moral de suas atitudes.

Ano passado, vale lembrar, Hardy também foi parte do início de Cannes ao ter "Le Temps de l'Amour" em uma das cenas mais bonitas de "Moonrise Kingdom", filme de Wes Anderson que abriu o festival anterior. "Hardy fala como ninguém sobre os tempos de adolescência e as decepções amorosas dessa época", explica Ozon.

A melancolia, no entanto, não faz parte do universo de Isabelle. E isso transforma suas aventuras sexuais em algo mais interessante do que o velho jogo de ninfeta contra instintos masculinos proposto por "Lolita". A personagem gosta de sexo. Ponto. A primeira cena é o ponto de vista da visão de seu irmão pequeno, usando um binóculo para vê-la de topless. Em seguida, a flagra masturbando-se no quarto e pergunta como foi perder a virgindade naquela noite -em uma cena inspiradíssima que mostra a menina se distanciando do prazer e vendo aquele ato como um simples abrir de pernas.

Há vários momentos assim em "Jeune et Jolie", todos protagonizados pela surpreendente interpretação de Marine, sejam chocantes sejam românticas. Ozon, sim, deixou a intelectualidade pop de "Dentro da Casa", mas lembrou a sensualidade, os limites da moral (não vamos esquecer que Isabelle é menor de idade) e o poder feminino de seu primeiro grande sucesso, "Swimming Pool". Isso em um festival dominado por diretores homens, chega a ser uma ousadia.

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A atriz Marine Vacth em cena do filme francês
A atriz Marine Vacth em cena do filme francês "Jeune et Jolie", que estreia em Cannes

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