Folha de S. Paulo


Arquitetos se unem pela preservação da Casa Melnikov, herança do vanguardismo russo

Uma casa cilíndrica e com janelas em forma de hexágono une Peter Eisenman, Steven Holl, e Rem Koolhaas. Eles estão entre os arquitetos que assinaram uma carta exigindo a preservação de um dos maiores trabalhos do construtivista russo Konstantin Melnikov (1890-1974), a Casa Melnikov.

As fundações da construção, de 83 anos, enfraqueceram desde o início de uma obra no terreno vizinho e a situação tem piorado nos últimos meses.

A casa foi construída no distrito de Arbat, em Moscou, quando Melnikov obteve autorização do governo soviético para dar forma a um protótipo de habitação para trabalhadores. O resultado, porém, foi uma criação pessoal feita de dois cilindros que se comunicam e cerca de 60 janelas em forma de hexágono.

A Casa Melnikov foi concluída em 1929, antes que o arquiteto completasse 40 anos, e seria seu último edíficio. Até sua morte, em 1974, Melnikov caiu em desgraça na União Soviética. Em seus últimos anos, ele se dedicou a ensinar desenho em pequenas escolas do interior da Rússia. A casa sobreviveu ao processo de reconstrução da cidade desde o fim do comunismo, em 1991, graças ao filho de Melnikov, Viktor.

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Fachada da casa Melnikov House, edifício representante do vanguardismo russo e que é alvo de uma campanha a favor de sua restauração
Fachada da casa Melnikov House, edifício representante do vanguardismo russo e que é alvo de uma campanha a favor de sua restauração

Fissuras e infiltrações dominam o interior da construção e a luta por sua preservação fez com que grupos de restauração da arquitetura vanguardista russa e o Archnadzor, um grupo de fiscalização e preservação que luta contra empreendimentos do setor imobiliário de Moscou, publicaram uma carta para o Presidente Vladimir Putin em seu site, exigindo uma ação imediata.

À Folha, representantes do Archnadzor dizem que a preservação da Casa Melnikov é um passo importante para a recuperação do patrimônio arquitetônico russo. "Após o fim do comunismo, testemunhamos diariamente a destruição de uma parte importante de nossa história. A arquitetura dos tempos da União Soviética é, atualmente, a peça mais frágil no jogo da especulação imobiliária."

Em uma segunda carta aberta, Frederick S. Starr, da Universidade Johns Hopkins, e Ginés Garrido, da Escola de Design da Universidade de Harvard, pedem não apenas a preservação do edifício (como um museu), mas também de todo o acervo e arquivos de Melnikov: "Queremos que os russos abracem e preservem essa importante parte de seu patrimônio, mas o edifício e esses arquivos fazem parte do patrimônio cultural da humanidade."

A petição recebeu assinaturas famosas, incluindo as de Rafael Moneo, e Alvaro Siza (veja a lista completa de assinaturas no arquitecturaviva.com ) que "buscam a preservação da Casa Melnikov como um museu público e uma compensação justa à família de Melnikov por seus esforços em preservá-la ao longo dos anos, desde a morte do arquiteto.

Os assinantes pedem, ainda, a compilação de todo o material na Rússia relacionado a Melnikov, e que este seja preservado em um lugar, preferencialmente em um museu adjacente à casa, onde estará à disposição de arquitetos, estudantes e do público."


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