Folha de S. Paulo


Diretor americano Bob Wilson dirige brasileiros em peça no Sesc Santos

Existem ganhos para quem assiste a um espetáculo do diretor americano Bob Wilson sem ter de olhar legendas, em geral colocadas acima da cena, sempre mais de dez metros distantes do piso.

Wilson é detalhista ao extremo: às vezes, um foco de luz ilumina a mão de um ator, às vezes essa cor muda no curso da história, em sincronia com um piscar de olhos do intérprete. Qualquer fuga do olhar do espectador pode perder esses detalhes.

Depois de encenar, no ano passado, "Lulu" e "A Última Gravação de Krapp", ambas em inglês, e também "Ópera de Três Vinténs", em alemão, Bob Wilson volta ao cartaz nas praças brasileiras com "A Dama do Mar", em português.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Bete Coelho (à esq.), Lígia Cortez e Ondina Clais Castilho em cena de
Bete Coelho (à esq.), Lígia Cortez e Ondina Clais Castilho em cena de "A Dama do Ar"

A peça estreia no Sesc Santos nesta quinta-feira (16) para duas apresentações. Depois vem a São Paulo, onde inicia, no dia 25, no Sesc Pinheiros, temporada que prossegue até 7 de julho.

Em seu elenco, estão Hélio Cícero, Lígia Cortez, Ondina Clais Castilho, Bete Coelho, Luiz Damasceno e Felipe Sacon. São atores que já passaram pelos palcos de diretores brasileiros consagrados, como Zé Celso, Gerald Thomas e Antunes Filho.

Foram todos escolhidos por Wilson a partir de uma bateria de testes. O diretor conta que, para selecionar os atores com quem vai trabalhar, costuma pedir nas audições apenas alguns movimentos, ou para que os intérpretes simplesmente permaneçam em pé, parados. "Não há nada mais difícil do que ficar parado no palco", diz.

"A Dama do Mar" foi encenada pela primeira vez em 1998, com texto adaptado por Susan Sontag (1933-2004) a partir de peça homônima de Henrik Ibsen (1828-1906).

"Para ser honesto, nunca gostei de Ibsen. Não gosto de naturalismo. Mas, dentro do repertório dele, acho que essa peça é estranha", diz Wilson, referindo-se a aspectos "irreais" da peça, como o zoomorfismo que caracteriza inicialmente sua protagonista.

Apresentada nas primeiras linhas como espécie de sereia, a tal Dama do Mar é uma mulher que aporta em uma família constituída por um médico (com quem ela se casa) e suas duas filhas. O casamento furta-lhe a liberdade, cujos horizontes são simbolizados pelo mar e pela espera de um amor do passado.

"No teatro, é possível expandir ou acelerar o tempo, e essa peça permite que isso seja feito", explica Wilson.

Foi Sontag quem sugeriu o texto a ele. "E eu disse a ela: 'Mas as peças de Ibsen são tão chatas, ele está sempre tentando se explicar'", conta. "Então Susan disse: 'Vou limpá-la para você'."

Nos 15 anos desde sua primeira temporada, a peça passou por modificações. "Toda vez que eu revejo um trabalho, faço mudanças, ele nunca está pronto", diz Wilson.

A DAMA DO MAR
QUANDO quinta e sexta (16 e 17/5), às 21h (no Sesc Santos). A partir do dia 25: sex., às 21h; sáb., às 20h, e dom., às 18h (no Sesc Pinheiros)
ONDE Sesc Santos (r. Conselheiro Ribas, 136, tel. 0/xx/13/3279-9800); Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
QUANTO até R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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