Uma tartaruga atravessa um quintal debaixo de uma forte chuva. Em seu percurso estão três jovens sentados em cadeiras de praia, estáticos, como mortos-vivos. O filme é "Cores", de Francisco Garcia, e a metáfora é clara e simplória. São vidas sem rumo, que caminham com lentidão para um destino incerto.
Os três vivem de subempregos: o tatuador Luca mora com a avó e a rouba para completar o orçamento; o farmacêutico Luiz desvia remédios de tarja preta; e sua namorada, Luara, é vendedora em uma loja de peixes.
Longa "Cores" coloca em evidência nova geração de produtores brasileiros
Mas não é tanto com "Vidas sem Rumo", de Francis Ford Coppola, que "Cores" dialoga. Uma citação dá a deixa: Luara observa alguns peixes num grande aquário. O filme homenageado é "O Selvagem da Motocicleta", também de Coppola.
São dois filmes rodados em preto e branco sobre uma juventude perdida. No de Coppola, apenas os peixes têm cores. No de Garcia, apenas o título.
Um pôster de "Estranhos no Paraíso", longa de estreia de Jim Jarmusch, colocado na edícula onde trabalha o tatuador Luca, confirma: "Cores" é um filme dos anos 1980 perdido neste confuso século 21.
Da bela fotografia em preto e branco ao repertório gestual dos personagens, mas também o cuidado com a composição de quadro e com o posicionamento da câmera, tudo no filme nos leva a uma outra época, em que essas preocupações eram mais frequentes no cinema.
"Cores", apesar de se situar nos dias atuais, nos leva à década da new wave, a uma época em que São Paulo era mais cinzenta, ou assim parecia. Nada de zoom desnecessário ou câmera que treme só porque está na moda fazê-la tremer.
O piloto que frequenta a loja de peixes representa a possibilidade de fuga do cinza e da vida sem graça. Uma abertura de horizontes que só se apresenta a Luara, que, não à toa, mora ao lado do aeroporto e vê aviões decolando o tempo todo.
CORES
PRODUÇÃO Brasil, 2012
DIREÇÃO Francisco Garcia
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Augusta 3, Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 6
AVALIAÇÃO bom