Folha de S. Paulo


Em 1994, setor editorial assumiu organização da participação brasileira em Frankfurt

O atual modelo de participação do governo e do mercado editorial na Feira do Livro de Frankfurt difere bastante daquele realizado em 1994, quando o Brasil foi homenageado pela primeira vez no maior evento editorial do mundo.

Segundo portaria interministerial de outubro de 2012, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) preside também o comitê organizador da participação brasileira na Feira de Frankfurt. Em entrevista à Folha, Renato Lessa, novo presidente da FBN, criticou a ideia da instituição como plataforma produção de eventos editoriais.

Em 1994, foram as entidades do setor, e não o governo, que assumiram o papel central de organização, segundo o jornalista, editor e consultor Felipe Lindoso --que ficou encarregado, na Câmara Brasileira do Livro, pela área de relações institucionais.

Câmara Brasileira do Livro diz que investe quase R$ 1 milhão em Frankfurt

Em uma série de posts publicados em 2011 em seu blog O Xis do Problema, o especialista lembrou dificuldades na ocasião.

"O apoio efetivo do governo brasileiro iria depender de muito esforço de mobilização e pressão das entidades dos editores, que assumiram de fato a responsabilidade de organizar a participação brasileira. A Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, corajosamente, se responsabilizaram pela organização do evento", escreveu. Esse modelo fez com que as entidades se planejassem para minimizar os custos do projeto, por meio de parcerias.

"No final da feira, o investimento do Brasil não chegou a US$ 3 milhões na época", escreveu Lindoso. Os gastos, como agora, incluíam preparação da exposição principal na feira (pavilhão do Brasil), presença de autores, mostras em museus, teatros e galerias pela cidade de Frankfurt e circulação de autores e artistas por outras cidades alemãs.

"É importante lembrar que na época foi muito mais barato porque o real estava sobrevalorizado, com o dólar custando R$ 0,70 ou coisa parecida", diz Lindoso à Folha. Para ele, na ocasião o governo pagou "de menos".

Lindoso conta que o Itamaraty se comprometeu a pagar R$ 1 milhão e cumpriu. Outros montantes vieram do Ministério da Educação e da Fundação Biblioteca Nacional. Mas o MinC, ele afirma, não cumpriu com todos os pagamentos prometidos.

O especialista cita texto do alemão Peter Weidhass, que dirigia a Feira de Frankfurt na ocasião. No livro "See You in Frankfurt", Weidhass comenta que houve "um déficit de US$ 750 mil que a Câmara do Livro teve que honrar e pagou em alguns anos".

Sobre os atuais gastos com o evento, Lindoso não opina qual deveria ser a participação do mercado em contrapartida à do governo, mas lamenta críticas ao valor total investido na feira.

"O Brasil tem a famosa mentalidade de vira-lata. É um absurdo um país com o porte e a importância internacional do nosso não poder ter condições de se apresentar para o mundo por meio da nossa literatura. É absurda essa mentalidade de que não pode fazer. Tem que fazer, tem que investir. Isso é uma ninharia na comparação com o que se gasta em outras áreas", conclui.


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