Folha de S. Paulo


Novo "Star Trek" olha para o passado e entrega um vilão inesquecível

Um dos segredos da bem-sucedida reinvenção de "Star Trek" ou "Jornada nas Estrelas" pelas mãos de J.J. Abrams ("Missão: Impossível 3", "Lost") foi lidar com o legado da série criada por Gene Roddenberry de forma despretensiosa, não deixando virar uma reverência de fanzoca nem um longa sem compromisso com suas raízes.

O desafio para Abrams na continuação "Além da Escuridão - Star Trek" (o nome não poderia ser mais simples?) seria manter a fórmula que rendeu mais de US$ 300 milhões, mas entregar algo que nunca foi visto antes. Não é bem assim que a história termina.

A sequência de "Star Trek" (2009) bebe com muito mais vigor do passado da franquia. Mas não é um passo para trás, apenas uma manutenção do que a equipe da produtora Bad Robot imaginou para esse universo.

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"Além da Escuridão" tem um plot até corajoso para um blockbuster de verão ao lidar com terrorismo de maneira pouco comum em Hollywood: o vilão John Harrison (Benedict Cumberbatch, a melhor coisa do filme) é um agente duplo despertado pela Federação dos Planetas Unidos (dirigida por Peter Weller, o eterno RoboCop) para espionar a expansão do império Klingon --que tem apenas uma participação menor na trama, mas certamente deve ser o grande inimigo de um (ainda não confirmado) terceiro capítulo.

Harrison se rebela e explode uma central de arquivos em Londres, além de atacar o prédio da Federação. Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto) reúnem a tripulação da Enterprise e partem em uma missão de moral duvidosa. Kirk recebe ordens de matar Harrison, refugiado em um planeta dentro do setor Klingon, mas tem a desaprovação do Vulcano, que pede por um julgamento justo.

Uma nave, em missão errante, em busca de um terrorista refugiado em território inóspito? Não precisa ser um analista político para compreender às referências à caçada americana a Osama Bin Laden no Paquistão.

Mas é no desenrolar do roteiro sobre moral e assassinato de inocentes que aparecem os diversos tributos, alguns já cantados pelos fãs há alguns meses como a verdadeira origem de Harrison e seus planos. Mas há também a novata Alice Eve no papel da dra. Carol Marcus, que traz várias lembranças de "Jornada nas Estrelas - A Ira de Khan" (1982), principal fonte de inspiração do novo "Star Trek".

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Da esq. para a dir.: os atores Zachary Quinto, Benedict Cumberbatch e Chris Pine no filme
Da esq. para a dir.: os atores Zachary Quinto, Benedict Cumberbatch e Chris Pine no filme "Star Trek - Além da Escuridão"

Os fãs da série são bastante contemplados neste segundo capítulo da saga de Abrams, que parte agora para "Star Wars" e fica apenas como produtor. Há novamente o desnecessário Leonard Nimoy com o "Spock mais velho de uma realidade alternativa" e personagens secundários da mitologia.

Ainda assim, há elementos de ação suficientes para manter o público que não sabe diferenciar Romulanos de Vulcanos, a grande maioria com Cumberbatch na liderança. Pena que Abrams em determinados momentos tende a mastigar demais as imagens, levando o público como uma criança vendada, algo que fez em "Super 8" (2011). Nada que prejudique a diversão de uma ficção científica que ambiciona ter alma política, mas termina servindo de bandeja para a pipoca e o refrigerante.

O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da Paramount Pictures


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