Folha de S. Paulo


"Você precisa mostrar que pode ser algo além de bonita", diz Monica Bellucci

Sentada no sofá de um hotel em Copacabana, onde veio dar entrevistas para promover seu filme mais recente, "Aconteceu em Saint-Tropez", Monica Belluci posa para o fotógrafo da Folha e pede para ver o resultado.

"Vocês vão retocar isso aqui, né?", pergunta, apontando para seus braços e seu rosto.

A preocupação é excessiva (a propósito, não retocamos fotos, Monica): aos 48 anos, a ex-modelo italiana que virou atriz de cinema europeu e hollywoodiano continua sendo um ícone de beleza.

Prova disso é sua personagem na comédia de Danièle Thompson -atração do Festival Varilux de Cinema Francês-, cuja principal característica é ser linda -e tonta.

"Ela é estúpida, mas tem algo profundo, sabe como amar. Ela representa a filosofia do filme: há poesia na banalidade, no dia a dia."

O estereótipo "linda e burra" não é estranho à atriz, que diz ter lidado com esse tipo de preconceito desde pequena, e tirado de letra.

"Quando eu tinha 13 anos, as pessoas ficavam espantadas por eu ser bonita e boa aluna. Não dá para culpar os outros. Você precisa mostrar que pode ser algo além de bonita." No filme, Bellucci interpreta a mulher de um rico empresário que tem conflitos com o irmão judeu.

O desinteresse de sua personagem pela religião, mote de diversas piadas no filme, é compartilhado pela atriz, que se declara "agnóstica" e diz acreditar "em energias".

"Tudo é energia, entre pessoas, lugares. E devo dizer que há energias muito fortes nesta cidade", diz Bellucci, que fixou residência no Rio desde janeiro, ao lado do marido, o ator francês Vincent Cassel, 46, e das filhas do casal (Deva, 8, e Léonie, 2).

Mas a que tipo de energia ela se refere? "Há toda essa natureza. Eu tenho a impressão de que se os cariocas saíssem por um mês, a selva consumiria tudo. A água, o céu, as árvores, é tudo tão forte."

O encanto com o cenário é dividido com um certo incômodo trazido pelos paparazzi, que faz a atriz pedir ao repórter para não citar o bairro da zona sul carioca em que reside ("Nós precisamos de alguma liberdade").

Não que Bellucci fique sempre no Rio. "Estou aqui desde janeiro, mas viajo muito, e agora vou ficar um bom tempo longe, vou para a Sérvia filmar com Emir Kusturica", diz.

Movida por uma "curiosidade pessoal e profissional" que a leva a filmar em lugares tão diversos quanto o Irã e a Sérvia, a atriz diz que atuar no Brasil não é tão simples, pela barreira da língua. "Entende (sic) muito, falo pouco", diz, em português.

"Teria de aparecer um bom roteiro, com uma personagem estrangeira interessante."

Seu conhecimento do cinema nacional é baseado em marcos tradicionais: "Orfeu Negro" [1959], do francês Marcel Camus, é "o que mais me marcou". "Cidade de Deus" ela diz considerar "um filme histórico". "E gosto de 'Tropa de Elite' também."

Fenômeno no Brasil, ela já aprendeu, é novela de TV.

"Sei que elas são muito importantes, algumas novelas viram o assunto da cidade, acho isso tão bonito. Espero conseguir passar mais tempo aqui, para conseguir ver e me apaixonar por uma novela."

ACONTECEU EM SAINT-TROPEZ
DIRETORA Danièle Thompson
PRODUÇÃO França, 2013
ONDE hoje (5), às 17h10 (Espaço Itaú Augusta) e 19h30 (Kinoplex Itaim), em São Paulo; 17h15 (Estação Ipanema) e 18h45 (Estação Botafogo), no Rio
PROGRAMAÇÃO variluxcinefrances.com


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