Folha de S. Paulo


Crítica: Ousadia de Justin Timberlake em seu novo disco é modesta

Entre os retornos musicais anunciados no começo do ano (David Bowie, Black Sabbath, Daft Punk), o mundo pop olhou especialmente para o de Justin Timberlake.

Há sete anos sem lançar disco, período que dedicou à carreira de ator, Timberlake lançou recentemente "The 20/20 Experience".

Seu terceiro álbum, sucessor do ótimo "FutureSex/LoveSounds", veio amparado por apresentações no Super Bowl e no Grammy (onde, a pedido de

Beyoncé, a plateia o aplaudiu de pé antes mesmo de ele começar a cantar) e por um show esgotado no Palladium, em Los Angeles. Jeito de sucesso inevitável.

"The 20/20 Experience" é um colosso com dez (doze, numa versão alternativa) canções bem-feitas, nítidas e seguras. "Música que se pode enxergar", como disse um amigo do cantor, segundo ele, inspirando a capa do álbum, em que aparece usando aparelhos óticos.

Há espaço para pequenas ousadias. A produção de Timbaland e J-Roc foge dos clichês comuns ao R&B pop de hoje: não há nenhum momento inspirado por dubstep, o mais recente modismo da música eletrônica, ou participações especiais deslocadas --descontando o rap de Jay-Z na longa "Suit & Tie", que, cortado, diminuiria bem os oito minutos da faixa.

O tempo total do disco, que tem mais de uma hora, é fácil alvo de críticas, mas há outros problemas: "Strawberry Bubblegum" exagera no climão de motel barato, "Spaceship Coupe" tem um deslocado solo de guitarra e "Mirrors" é uma dispensável balada sintética, dessas que vão envelhecer mal.

A compensação vem na forma do já citado primeiro single, "Suit & Tie", na brilhante "That Girl" (assinada pela afiada banda formada para acompanhar Timberlake ao vivo, os Tennessee Boys) e "Let The Groove Get In", batucada que não estaria fora de lugar num disco de Stevie Wonder ou mesmo de Michael Jackson.

As comparações com Jackson são frequentes. Ambos trabalharam desde cedo no showbiz, performers talentosos conduzidos por bons produtores.

Mas as similaridades acabam aí. Se falta a JT a aura de divindade de MJ, sobra estabilidade pessoal e, por isso, "The 20/20 Experience" é uma experiência criativa bem-sucedida.

Vale lembrar que a ex-integrantes de boy bands é normalmente negada uma carreira de prestígio. Timberlake --que foi do 'N Sync-- conseguiu isso sem canções feitas às pressas para agradar ao mercado.

THE 20/20 EXPERIENCE
ARTISTA Justin Timberlake
GRAVADORA Sony/BMG
QUANTO R$ 25,90
AVALIAÇÃO bom


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