Folha de S. Paulo


Crítica: 'Quarto 237' investiga teorias conspiratórias em 'O Iluminado' de Kubrick

Antes de começarmos: "Quarto 237" não é um documentário sobre "O Iluminado", clássico de Stanley Kubrick lançado em 1980. Não tem ninguém ligado à produção entrevistado sobre as esquisitices do diretor americano morto em 1999 ou que tipo de câmera ele usou. "Quarto 237" é um filme sobre um bando de loucos (ou gênios?) e suas teorias da conspiração geradas pelo longa protagonizado por Jack Nicholson.

Pode parecer estranho. E é. Mas isso é o melhor adjetivo que pode ser lançado sobre o documentário de Rodney Ascher. O filme oferece ao espectador uma vasta gama de intrigas, imagens que apenas os entrevistados percebem e estudos que transformam "O Iluminado" no cadáver cinematográfico mais complexo da história, uma espécie de "Sgt. Pepper's" das telonas.

Algumas teorias são forçadas ao extremo. Uma estudiosa acredita que o filme é uma metáfora do mito grego do Minotauro: ela afirma que um pôster de um homem esquiando em determinada cena é, na verdade, o Minotauro --e o hotel, seu labirinto. Meio furada.

Divulgação
Cena de
Cena de "Quarto 237", de Rodney Ascher

Outro fanático diz que não tinha gostado do filme, mas sempre o revia ao longo dos anos por causa de mensagens subliminares de apelo sexual jogadas por Kubrick ao longo da projeção. Ele chega a encontrar um pênis em um peso de papel que aparece por dois segundos em uma cena com Jack Torrance (Nicholson) entrando no escritório do hotel.

Um terceiro "estudioso" fez uma experiência insana: projetou "O Iluminado" de duas maneiras, sobrepondo o longa normal com outra versão rodando ao contrário. Apesar da loucura psicodélica no estilo "ouça 'Dark Side of the Moon', do Pink Floyd enquanto assiste a 'O Mágico de Oz'", a brincadeira gera sequências interessantes, mas claramente não intencionais.

As conspirações mais interessantes estão no início do documentário. A primeira afirma que "O Iluminado", na verdade é sobre o massacre dos nativos norte-americanos --tudo por causa de latas de fermento com um índio no rótulo. A segunda, e mais engraçada, relata que o longa é uma forma de Kubrick tentar avisar ao mundo que ele foi contratado pelos Estados Unidos para criar a chegada dos astronautas ianques à Lua.

Ainda há os que acreditam que o thriller é sobre o holocausto, outros explicam o que seriam erros de continuidade grotescos do cineasta. O grande trunfo de "Quarto 237", no entanto, é mostrar todas essas teorias para o espectador julgar, não apresentando respostas ou desmentindo opiniões. O espectador sai da sala mais confuso do que quando entrou, mas talvez tenta sido exatamente isso que Stanley Kubrick sempre tenha planejado. Ou não.

QUARTO 237
PRODUÇÃO EUA
QUANDO domingo (14), 21h
ONDE Cine Livraria Cultura
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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