Folha de S. Paulo


Crítica: "Angie" se enfraquece ao mergulhar nas relações familiares da protagonista

O maior valor de "Angie", coprodução americana e brasileira dirigida por Márcio Garcia, é certamente Camilla Belle. Ela atua como a bela garota do título, uma jovem em busca do pai que a abandonou quando criança.

A garota não se apega a pessoas ou lugares. Nunca fala de seu passado, e mora numa barraca no meio do mato. Tem um único grande amigo: o sem-teto Chuck, vivido por Andy Garcia.

A conexão entre Camilla Belle e Angie é evidente. Ambas têm mãe brasileira e pai americano. Por isso a trama também se divide entre Brasil e Estados Unidos.

O diretor é um conhecido ator de novelas globais. No cinema, está devidamente globalizado. Este já é seu segundo longa-metragem rodado nos Estados Unidos, após o insosso "Amor por Acaso", de 2010.

O preconceito pode afastar alguns espectadores, uma vez que, nas novelas, Márcio Garcia é quase sempre um galã abobalhado. A exceção é seu papel em "Celebridade", de Gilberto Braga. Como ator cinematográfico, atuou pouco. Como diretor, mostra algum progresso.

"Angie" tem força nos momentos em que a protagonista demonstra capacidade de ter relações verdadeiras, seja com Chuck, seja com David (Colin Egglesfield), um policial que a despertou de uma soneca no banco do carro, e, podemos dizer, de uma vivência um tanto atrapalhada.

O filme, contudo, se enfraquece quando mostra a relação com a mãe (Christiane Torloni) e a irmã (Carol Castro), como se a língua portuguesa aparecesse aí como um ruído, algo artificial e estranho àquele universo.

Existe ainda uma personagem muito ruim: a dona da lanchonete interpretada por uma afetadíssima Juliette Lewis (atriz que nunca mais se encontrou após sua boa aparição em "Cabo do Medo", de Scorsese). Nos momentos com ela, o filme chega muito perto do ridículo.

Os outros atores estão bem. Esforçam-se para disfarçar a densidade pífia de seus personagens. Mesmo John Savage dá certa dignidade a um papel que foi criado unicamente para mostrar o lado protetor de Chuck.

Quem brilha mesmo é Camilla Belle, que tem aqui a interpretação de sua carreira. Ela empresta dignidade a Angie.

Seu sorriso é tocante. O olhar profundo parece esconder muitos segredos. Algumas de suas falas anteriores à incômoda guinada do enredo sugerem uma princesa com jeito de adolescente e obstinação de guerreira.

Esse brilho não é pequeno. É o suficiente para evitar que o filme descambe totalmente sob o peso falso de suas revelações.

ANGIE
AVALIAÇÃO regular


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