Folha de S. Paulo


Retrospectiva traz revolução cinematográfica do diretor Dziga Vertov

Homenageado com uma rara e fundamental retrospectiva no É Tudo Verdade, Dziga Vertov (1896-1954) foi uma revolução no cinema dentro de uma revolução política (a russa, no caso).

Nascido como Denis Abramovich Kaufman em Bialystok (então Império Russo, hoje Polônia), seu pseudônimo é a união das palavras "vertov" (fazer girar, rodar) e "dziga" (onomatopeia para o girar da manivela da câmera).

Seu cinema era sobretudo uma arte do movimento: das máquinas e dos homens, da manivela e da montagem. Entre os muitos princípios que ele criou e descreveu em seus manifestos, talvez o mais importante seja o do cine-olho (kino-glaz, no original).

Austrian Film Museum/Divulgação
O diretor russo Dziga Vertov (1896-1954), tema de retrospectiva no É Tudo Verdade
O diretor russo Dziga Vertov (1896-1954), tema de retrospectiva no É Tudo Verdade

Para o cineasta russo, a câmera era capaz de captar o não visível da realidade, aquilo que está diante de nós, mas que nossos olhos não conseguem enxergar. A "poesia das máquinas" seria, assim, superior à imperfeição do humano (era, pois, um discípulo do futurismo).

Com Sergei Eisenstein, seu célebre compatriota, compartilhava a fé na montagem como fundamento do cinema. Mas, ao contrário daquele, renegava a narrativa. Defendia que o cinema se afastasse da literatura e do teatro para se afirmar como arte autônoma.

Desses princípios resultavam filmes que classificava como documentários poéticos -colagens livres, mas nunca aleatórias, de cenas da sociedade e da política soviética.

O É Tudo Verdade traz quatro curtas de sua formação, incluindo exemplares de sua "Cine-Semana" (1918-1919), pioneiros cinejornais de atualidades, e do "Cine-Verdade" (1922-1925), em que seus conceitos autorais evoluem.

Apresenta ainda sete longas, dos clássicos "O Homem com a Câmera" (1928) e "Três Canções sobre Lênin" (1934) até preciosidades como "Entusiasmo" (1930) -todos com sessões entre hoje e domingo.

Nos anos 40 e 50, Vertov encontrou grandes impedimentos para filmar diante da burocracia stalinista.

O resgate do cineasta parece ter chegado agora a seu ápice. Na eleição dos melhores filmes do cinema feita pela prestigiosa revista inglesa "Sight & Sound" no ano passado, "O Homem com a Câmera" ficou em oitavo lugar.

RETROSPECTIVA VERTOV
QUANDO até domingo
ONDE confira a programação completa em www.itsalltrue.com.br


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