Folha de S. Paulo


Crítica: Longa resgata legado do cinema marginal de Ozualdo Candeias

O que dizer de Ozualdo Candeias? Que é um gênio do cinema? Sim, mas como podemos comprovar a suposta genialidade? Talvez o melhor caminho seja o seguido por Eugenio Puppo, em "Ozualdo Candeias e o Cinema".

O longa é uma das principais atrações do fim de semana no festival de documentários É Tudo Verdade. Melhor que entrevistar cabeças falantes entoando loas ao cineasta é mostrar suas próprias imagens, elogio à liberdade e à paixão cinematográfica que os filmes irradiam.

Candeias foi um dos maiores talentos do cinema brasileiro. É necessário que seja (re)descoberto, admirado ou rejeitado (por que não?) pelo maior número de pessoas.

Divulgação
Cena de
Cena de "A Margem" usada no filme de Eugenio Puppo

Seus filmes de orçamento irrisório mostram a habilidade de um mestre. Bastava ligar a câmera e ele sabia exatamente para onde apontá-la.

Trechos de todos eles aparecem com generosidade no filme de Puppo, tendo por vezes depoimentos do próprio Candeias na trilha sonora.

"A Margem" (1967), o primeiro, inaugura o "cinema marginal" (muitos preferem o termo de Jairo Ferreira: "cinema de invenção"). Com "Meu Nome é Tonho" (1969), obra-prima, reinventa o faroeste.

"A Herança" (1971), o terceiro longa, transpõe "Hamlet" para o interior paulista, com David Cardoso e trilha sonora repleta de ruídos. Ofélia é negra e o momento "ser ou não ser" é encenado com caveira de boi. Transgressão pura.

Podemos destacar ainda "Zézero" (1974), um média que se encaixa bem na ideia de cinema libertário, e o censurado "A Opção ou As Rosas da Estrada" (1981), em que a estranheza dá o tom.

Editoria de Arte/Folhapress

Longas de outros diretores também entram no jogo, numa contextualização necessária para entendermos alguns momentos importantes do cinema brasileiro. Como aquele, no início dos anos 1980, em que o sexo explícito invadiu as telas precipitando o fim de um tipo de indústria cinematográfica: a boca do lixo.

Candeias faleceu em 2007, e a maior parte de sua obra inexiste em formato digital. Seu último longa, "O Vigilante", de 1992, nem foi lançado nos cinemas. O gênio, afinal, tende a ficar à margem.

OZUALDO CANDEIAS E O CINEMA
DIREÇÃO Eugenio Puppo
QUANDO sábado (6), 21h; domingo (7), 13h (Cine Livraria Cultura; av. Paulista, 2.073; tel.: 0/11/3285-3696)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO bom


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