Folha de S. Paulo


Corpo do cantor Emílio Santiago é sepultado no Rio; cerimônia reuniu parentes e artistas

O corpo do cantor Emílio Santiago, 66, foi sepultado por volta das 12h25 desta quinta-feira (21) no Memorial do Carmo, cemitério vertical na zona norte do Rio. A cerimônia ocorreu sob forte comoção de amigos e fãs, que rezaram, cantaram e lamentaram a morte do artista.

Famosos lamentam a morte do cantor
Cantor trocou carreira de direito pela música
"O romantismo não vai acabar nunca", dizia

O padre Jorge André, amigo do cantor, rezou pela alma de Santiago. "A essência é o que fica. A matéria passa e, no caso do Emílio, a essência nunca vai acabar. Ele emprestou seu coração a todos aqueles que precisavam", disse.

Emocionado, o assistente do cantor, Arcindo José, mais conhecido como Soca, saiu amparado por amigos após o sepultamento. Emílio Santiago foi sepultado no jazigo 6231, ao lado de sua mãe adotiva.

Diversos artistas e amigos compareceram para a cerimônia. O cantor Agnaldo Timóteo disse que Santiago era o melhor intérprete da atualidade. "Ele tinha charme, cultura, nobreza. Poucos têm esse privilégio e Emílio Santiago tinha", disse.

O músico Carlinhos Brown afirmou que Santiago era a voz mais internacional do Brasil. "Foi um grande poeta porque sempre soube escolher bem suas músicas, o que descia bem pela garganta. Estamos de luto. A música perde uma de suas maiores vozes", disse.

Segundo o cantor e ator Tony Tornado, Santiago era "o melhor cantor que havia no Brasil". "Ele extrapolou os limites das suas canções. Ele nos deixa em um momento ruim para a música brasileira."

O sambista Neguinho da Beija-Flor disse que a perda do amigo não tem tamanho. "É uma perda sem tamanho para os amigos e a MPB. Emílio é uma daquelas vozes inesquecíveis", afirmou.

O produtor musical Luís Carlos Miele disse que Santiago vestiu a camisa de Wilson Simonal, na sua opinião, o maior cantor do país. "Emílio era popular, uma referência para gravações de bossa nova", disse.

Emílio Santiago morreu nesta quarta (20) após complicações respiratórias e cardíacas sofridas por um AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico. Ele estava internado desde o dia 7 de março no hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio.

O velório do corpo do cantor foi realizado na Câmara de Vereadores do Rio, em uma cerimônia aberta aos fãs. A despedida começou ao meio-dia de quarta-feira e terminou nesta quinta-feira, às 11h.

"Emílio Santiago foi um dos maiores cantores do Brasil. Era de um bom gosto impressionante. Era um grande intérprete", disse a cantora Nana Caymmi, que esteve no local.

A atriz Marília Pêra também compareceu ao velório e lembrou que a presença do cantor era constante em seus espetáculos. "Ele sempre me prestigiava. Tinha uma técnica vocal muito apurada. Um timbre de voz especialíssimo, uma coisa divina.

Já a cantora Alcione afirmou que com a morte do colega, se sente meio viúva. "Ele era tudo, como se fosse da minha família. Grande amigo e grande irmão. O Brasil perde mais uma voz masculina. Agora só temos o Cauby [Peixoto]", disse.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1946, Emílio Santiago cursou direito na década de 1970, estimulado por seus pais.

Em sua casa, costumava escutar canções de Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva. A bossa nova, em especial João Gilberto, também eram algumas das preferências do bacharel.

Estimulado por amigos, que conheciam seu gosto pela música, começou a participar de festivais. Apresentou-se também na televisão, no programa "A Grande Chance", apresentado por Flávio Cavalcanti, chegando às finais.

Em 1973, gravou para a Polydor seu primeiro compato, "Transas de Amor". O primeiro disco veio em 1975, lançado pela CID. Produzido por Durval Ferreira, o álbum "Emílio Santiago" continha canções de compositores como Ivan Lins, Jorge Ben Jor e Nelson Cavaquinho.

No ano seguinte, transferiu-se para a gravadora Philips/Polygram, em que permaneceu até 1984.

Em 1988, convidado por Roberto Menescal e Heleno Oliveira, fez o primeiro disco da série "Aquarela Brasileira", projeto da Som Livre dedicado à releituras de clássicos brasileiros, com o qual atingiu o sucesso.

Em 2000, assinou com a Sony Music. Seu trabalho de estúdio mais recente é "Só Danço Samba", de 2010, que homenageia Ed Lincoln e marcou a comemoração de seus 40 anos de carreira.

Entre os maiores sucessos gravados em sua voz estão "Saygon", "Lembra de Mim" e "Verdade Chinesa".

DISCOGRAFIA

1975 - "Emílio Santiago"
1976 - "Brasileiríssimas"
1977 - "Comigo é Assim"
1977 - "Feito pra Ouvir"
1978 - "Emílio"
1979 - "O Canto Crescente de Emílio Santiago"
1980 - "Guerreiro Coração"
1981 - "Amor de Lua"
1982 - "Ensaios de Amor"
1983 - "Mais que um Momento"
1984 - "Tá na Hora"
1988 - "Aquarela Brasileira
1989 - "Aquarela Brasileira 2"
1990 - "Aquarela Brasileira 3"
1991 - "Aquarela Brasileira 4"
1992 - "Aquarela Brasileira 5"
1993 - "Aquarela Brasileira 6"
1995 - "Aquarela Brasileira 7"
1995 - "Perdido de Amor"
1996 - "Dias de Luna"
1997 - "Emílio Santiago"
1998 - "Emílio Santiago"
1998 - "Preciso Dizer que Te Amo"
2000 - "Bossa Nova"
2001 - "Um Sorriso nos Lábios"
2003 - "Emílio Santiago Encontra João Donato"
2005 - "O Melhor das Aquarelas - Ao Vivo"
2007 - "De um Jeito Diferente"
2010 - "Só Danço Samba"


Endereço da página:

Links no texto: