Folha de S. Paulo


Crítica: Tragédia em filme "Cinzas e Sangue" se impõe, mas não dilacera

Estrela do cinema francês e viúva do icônico diretor François Truffaut (1932-84), a atriz Fanny Ardant estreou como diretora em 2009 com este "Cinzas e Sangue".

O longa, exibido na Mostra Internacional de São Paulo daquele ano, tem um lançamento tardio, em parte por causa do engarrafamento que a ocupação massiva de
blockbusters provoca na exibição dos filmes menores.

O roteiro, assinado pela atriz e diretora, adapta o ensaio "Ésquilo ou o Eterno Perdedor", publicado em 1983 pelo escritor albanês Ismail Kadaré ("Abril Despedaçado").

Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Cinzas e Sangue", dirigido pela estrela do cinema francês Fanny Ardant

No texto, Kadaré propõe um reexame de tradições culturais dos Bálcãs e de temas recorrentes em sua própria obra literária à luz do choque de valores representado nas tragédias do autor grego.

Temas como a transmissão sanguínea da culpa e a equivalência da pena de morte como punição por um assassinato são tópicos do ensaio que Ardant transforma em argumento dramático em "Cinzas e Sangue".

O filme acompanha o destino turbulento da família de Judith, mulher viúva que abandonou um universo de rigidez moral numa região indeterminada da Europa Oriental e foi viver na França com seus três filhos.

Quando decide retornar para uma cerimônia de casamento na família, os fantasmas ressurgem e culminam numa morte trágica.

Como se espera de atores em seus primeiros passos na direção, Ardant focaliza seu trabalho nos intérpretes, com destaque para Ronit Elkabetz no papel de Judith.

Na primeira parte, as escolhas visuais, mesmo quando se inclinam para a ênfase kitsch (como o vermelho sanguíneo sobre o preto e branco da cena que abre o filme), revelam a preocupação de pensar o cinema além da tensão dramática garantida pelo elenco.

Contudo, à medida que o fio se desenrola rumo ao trágico e as situações ficam concentradas no espaço da família, "Cinzas e Sangue" ganha uma rigidez teatral, fria e
profissional.

Daí em diante, a tragédia se impõe, mas não mais dilacera.

CINZAS E SANGUE
DIREÇÃO Fanny Ardant
PRODUÇÃO França/Romênia/Portugal, 2009
ONDE Espaço Itaú Frei Caneca
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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