Folha de S. Paulo


Falhas na distribuição de filmes na América Latina estimulam pirataria, dizem cineastas

Cineastas e parte dos organizadores do festival Cinelatino de Toulouse lamentaram a pouca distribuição dos filmes latino-americanos e a quase inexistente "troca" entre os países dessa região, o que supostamente estimula a pirataria e fragiliza o setor.

O criador dessa mostra cinematográfica que ocorre há 25 anos na cidade francesa, Francis Saint-Dizier, disse na última segunda-feira (18) que a indústria cinematográfica na América Latina evoluiu muito e que o nível de produção aumentou notavelmente nos últimos anos, mas ainda falta reforçar a distribuição.

"O problema não é tanto a produção, mas a distribuição e a circulação desses filmes, inclusive dentro da própria região latino-americana", apontou.

Essa troca de filmes entre os países latinos "quase não existe" devido ao fato "das tradicionais salas de cinema serem substituídas pelos cinemas Multiplex, que pertencem à grande indústria cinematográfica e mostram muito pouca filmografia regional", lamentou Saint-Dizier.

No caso centro-americano, a cineasta Laura Astorga, da Costa Rica, que hoje apresenta seu filme "Princesas Vermelhas" na seção oficial do festival, lamentou que seu país seja "um dos que mais se opõe a uma integração" nessa região e que a distribuição siga "as regras dos Estados Unidos, que não representa em nada a cultura local.

Segundo Saint-Dizier, muitos países restituíram sua indústria nacional, embora tenham optado por modelos diferentes, como a Argentina, Chile, México e o Brasil.

O modelo argentino conta com o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA), dedicado ao apoio do cinema, enquanto o México prioriza o "cinema independente", e o Brasil parte rumo a uma solução "mista". Já os outros países se fixam no modelo francês, que destina diretamente parte do dinheiro das entradas à produção de futuros filmes.

A escassez de filmes independentes ou de baixo orçamento nas salas da América Latina também gera efeitos negativos à própria indústria, já que estimula a aparição da pirataria na rede.

"Sem internet e festivais eu não poderia conhecer o trabalho dos meus colegas latino-americanos", assegurou a cineasta costarriquenha.

Outro dos desafios do cinema latino-americano é a participação das mulheres na sétima arte, onde conquistaram "um espaço público muito grande" nos últimos 25 anos.

"As coisas começam a mudar, já que há mais protagonistas femininas e não somente homens falando sobre homens", explicou a diretora, que considera "saudável" o fato do cinema oferecer visões tanto masculinas como femininas.

Neste aspecto, a cineasta costarriquenha exalta a falta de presença de mulheres no âmbito "macroeconômico, onde se tomam as decisões", como nos comitês, conselhos e júris de cinema.


Endereço da página: