Folha de S. Paulo


Imprensa do Irã critica Oscar de "Argo" e rejeita discurso de Ben Affleck

Aos olhos do governo iraniano, a escolha da primeira-dama americana, Michelle Obama, para anunciar o Oscar de melhor filme para "Argo", na noite do último domingo (24), é a prova definitiva de que Hollywood segue uma agenda política.

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"Esteticamente, o filme é muito pobre, e de qualquer maneira não esperamos outra coisa por parte do inimigo", disse o ministro da Cultura e Orientação Islâmica, Mohammad Hosseini.

"[Os EUA] usaram o filme contra nós, mas isso só aumenta nossa determinação em fazer filmes mais fortes em resposta", disse Hosseini.

O ministro se referia à decisão de Teerã, anunciada em janeiro, de financiar uma superprodução para divulgar a visão oficial iraniana da tomada de reféns na embaixada, que levou EUA e Irã à ruptura.

Na primeira reação oficial de Teerã ao Oscar, as agências pró-regime Mehr e Fars disseram que a Academia só recorreu a Michelle Obama por se tratar de um "filme anti-Irã".

A avaliação foi corroborada pelo ator Homayoun Ershadi, protagonista do premiado "Gosto de Cereja" (1997), de Abbas Kiarostami.

"Filmes estrangeiros sobre o Irã estão sempre ligados a interesses políticos, em vez de aproximar [o público ocidental] do Irã e da nação iraniana", afirmou.

Um dos motivos de irritação das autoridades foi o discurso de vitória do diretor e ator Ben Affleck, no qual disse que "os iranianos vivem sob circunstâncias terríveis". Segundo a agência Mehr, Affleck "distorceu a história e continua mostrando uma imagem sombria do Irã".

Destoando do tom predominante na mídia local, o jornal centrista "Hamshahri" destacou que "Argo" merece ser visto por mostrar a perspectiva americana e incentivar a reflexão acerca da tomada de reféns, incidente que levou EUA e Irã à ruptura.

Embora banido na república islâmica, "Argo" pode ser facilmente comprado em pontos de venda de DVDs piratas nas grandes cidades. Uma cópia custa o equivalente a R$ 1,50.

O filme faz sucesso principalmente entre jovens. Pessoas que vivenciaram a revolução islâmica de 1979 tendem a gostar menos do filme por subestimar as razões históricas que levaram os iranianos a derrubar o regime pró-americano do xá Reza Pahlevi.


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