Folha de S. Paulo


Dez anos após morrer, Sabotage ganhará disco, documentário, longa de ficção e show em sua homenagem

Era julho de 2002 na favela do Canão, no Brooklin, zona sul de São Paulo, quando Mauro Mateus dos Santos, o rapper Sabotage, disse ao diretor de cinema Ivan Vale Ferreira: "Poderia morrer amanhã, minha parte eu já fiz".

Filme detalha ligação de Sabotage com o tráfico de drogas

Seis meses depois, aos 29 anos, morreu alvejado por cinco tiros, após deixar a mulher no trabalho. O autor do crime, Sirlei Menezes da Silva foi condenado a 14 anos e cumpre pena em regime fechado.

Na quinta-feira (24) completam-se 10 anos da morte de Sabotage, e projetos ligados ao MC começam a sair do papel. Dois deles, um documentário e um disco póstumo com músicas inéditas, seguem caminhos parecidos em sua realização: levaram mais de uma década para serem lançados.

O álbum, com previsão de lançamento entre março e abril, terá o título de "Canão Foi Tão Bom", com produção dos criadores da banda Instituto, Daniel Ganjaman, Tejo Damasceno e Rica Amabis.

Na semana de sua morte, Sabotage trabalhava no que seria o seu segundo disco. Gravou de segunda a quinta. Morreu na sexta.

Dez anos depois, o álbum terá as músicas pré-gravadas naquela semana, outras três com o Instituto e mais uma com participação de Wanderson "Sabotinha", filho do rapper, ao lado do Sepultura.

Terá ainda o rap "Sai da Frente", que ficou de fora da trilha de "Carandiru" (2003), de Hector Babenco, com letra feita pelo cineasta em parceria com Sabotage.

"Toda a grana irá para a família", explica Ganjaman.

A confiança no Instituto era natural. Foi o coletivo --ao lado de Quincas Moreira, Zé Gonzalez, Helião e Sandrão (RZO), Rappin Hood, Mano Brown e Ice Blue, dos Racionais MCs-- que ajudou Sabotage a erguer o único disco de sua vida.

Lançado em 2000, "Rap É Compromisso" se tornou um clássico do rap nacional, com frases eternizadas, como a que batiza o álbum, além de "respeito é pra quem tem".

FICÇÃO E DOCUMENTÁRIO

Sabotage, que atuou nos filmes "O Invasor" (2001), de Beto Brant, e "Carandiru", também terá sua vida filmada. Com direção de Walter Carvalho, o longa ainda está em fase de roteirização.

Mais adiantado do que a ficção está o documentário "O Maestro do Canão", de Ivan Vale Ferreira.

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Com 70% das filmagens realizadas, o diretor acaba de se associar à produtora Elixir, de Denis Feijão, que produziu "Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio", sobre a vida do roqueiro baiano.

Além disso, Ferreira também fechou parceria para exibir seu documentário no Canal Brasil, mas ainda busca patrocínio para finalizar o filme e distribui-lo nos cinemas.

O documentário exibirá mais de 20 entrevistas, imagens inéditas de arquivos e trechos em animação.

"Recorremos à linguagem de HQ para cobrir alguns buracos, como a infância dele, da qual temos poucas imagens", conta o diretor.

O filme terá depoimentos de Brown, Rappin Hood, Helião, Thaíde, Beto Brant, Babenco, Ganjaman, entre outros que o comparam a Che Guevara, Garrincha, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Apesar disso, Feijão diz que a ideia do filme não é canonizá-lo. "Servirá para desmistificar a figura dele."

Em abril, mês em que o músico completaria 40 anos, será realizado um tributo, sem local definido, com os principais nomes do rap nacional.


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