Folha de S. Paulo


Ademir Assunção lança dois títulos de poesia contrapondo a própria obra

NATUREZA E CIDADE

Em seus dois novos livros, lançados simultaneamente, Ademir Assunção contrapõe dois extremos de sua poesia: a natureza e a cidade.

A musa primeira está no centro de sua visão desde Londrina, onde se destacou no final dos anos 1980, ao lado de Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Mário Bortolotto, entre outros artistas daquela geração, "beatniquins" ensopados de filosofia oriental e poesia japonesa.

Coerente com esse início, "Até Nenhum Lugar" trafega, de 1984 a 2013, entre haicais cuja matéria-prima é a própria existência do poeta, seus danos e dádivas: "tanto caminhar/ tantas luas tantos sóis/ até nenhum lugar".

Reprodução

Sem lua que ilumine a escuridão das esquinas, "Pig Brother" é aterrorizado pela necrópole paulistana. Ópera rock assombrada pelos fantasmas de Roberto Piva e Frank Zappa, traz à frente o vocalista exímio que Assunção é —e a longa sequência de poemas imagéticos se aproxima da prosa dos balões de quadrinhos narrada num presente permanente e claustrofóbico.

ATÉ NENHUM LUGAR
AUTOR: Ademir Assunção
EDITORA: Patuá
QUANTO: R$ 28 (100 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

PIG BROTHER
AUTOR: Ademir Assunção
EDITORA: Patuá
QUANTO: R$ 37 (136 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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EXPERIÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS

Herdeira da tradição beatnik e de sua crítica ao establishment, a poesia rebelde de Rodrigo Garcia Lopes se volta, em "Experiências Extraordinárias", contra o cenário edulcorado de nossa Idade Mídia, com seus ídolos de ocasião e modelos de sucesso.

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Evocando Drummond, Oswald de Andrade, Graciliano Ramos ou a dupla Ginsberg/Kerouac, o poeta denuncia o "poeta fofo" que "assassina mais um poema", "as descobertas científicas" que "nos domesticam", os "bonecos travestidos de sentido", "a fome o cansaço a humilhação", o real "seco de linguagem", mesmo desconfiado do alcance da própria voz e da permanência da palavra diante de um ambiente que emudece, porque talvez esteja soterrado pelo excesso de discursos, imagens, slogans, ruídos e ruinas.

É verdade que a literatura brasileira, em prosa e verso, está acossada pela fofice, o mimimi lírico, mas ainda existe alguma resistência dos que buscam o nervo inflamado do outro e do real, ali na esquina. (REYNALDO DAMAZIO)

AUTOR: Rodrigo Garcia Lopes
EDITORA: Kan
QUANTO: R$ 25 (104 págs.)
AVALIAÇÃO: bom


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