Folha de S. Paulo


Após oito anos, 'Guia de Livros, Discos e Filmes' se despede

Como anunciado na Folha de 17 de março, este "Guia" deixa de circular a partir da presente edição, após oito anos de existência, dentro de uma mudança estrutural em que a pauta de livros, discos e filmes da publicação passa a ser absorvida pelos outros cadernos culturais do jornal: "Ilustrada" e "Ilustríssima".

Este último editorial é, portanto, um momento de despedida e de agradecimento aos leitores que acompanharam as 86 edições do "Guia", sempre opinando, elogiando, criticando e sugerindo títulos a serem analisados pelos colaboradores do caderno.

Quanto a estes, fica aqui o reconhecimento de que, sem a participação ativa de jornalistas, ensaístas, críticos de literatura, música e cinema, escritores, artistas visuais e compositores que escreveram as quase 7.000 dicas culturais (entre resenhas e entrevistas) aqui publicadas nesses oito anos, o "Guia Folha, Livros, Discos, Filmes" não teria se constituído num radar mensal da produção disponível nos suportes livro, CD e DVD.

Graças a esses colaboradores, à equipe do núcleo de revistas do jornal e aos editores que acompanharam a empreitada (nomeadamente, Cristina Paiva, Marcos Strecker, Isabel Marcondes e Alexandre Agabiti Fernandez), o "Guia" foi mais do que um mapa de produtos. Procurou ser –segundo um projeto concebido pela diretora de revistas Cleusa Turra, pelo jornalista Alcino Leite Neto (hoje editor da Três Estrelas, do Grupo Folha) e pela editora de arte Thea Severino–, uma espécie de bússola que buscou orientar o leitor com textos curtos, sem prejuízo da agilidade crítica, em meio à enorme quantidade de títulos lançados mensalmente no mercado brasileiro.

E se a conjuntura atual do país sugere abatimento, esta última edição do "Guia" é uma prova de que literatura (em seus mais variados gêneros, ficcionais e não ficcionais), música e cinema são, muito mais do que entretenimento, uma forma de pensar a realidade.

Afinal, uma feliz coincidência quis que as obras em destaque nos textos de abertura das três seções deste "Guia" fossem de artistas brasileiros que trazem uma rara percepção das tensões que atravessam o Brasil: o romance em que o escritor Luiz Ruffato aborda nosso imobilismo social; o disco em que o saxofonista e clarinetista Nailor Proveta mostra como o instrumental brasileiro (com seu trânsito entre o jazz e a música clássica) é uma tradução de nossas confluências entre popular e erudito; e o filme póstumo em que o documentarista Eduardo Coutinho expressa nossos abismos geracionais.


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