Folha de S. Paulo


Coleção com DVDs de Fellini traz suas visões de Roma e documentário

Se, entre três filmes de Federico Fellini, dois são "Satyricon" (1969) e "Roma" (1972), as maiores obras-primas com sua assinatura, o terceiro quase que obrigatoriamente deve ser considerado bônus. No caso, o terceiro é "A Voz da Lua" (1990), seu último longa e um dos poucos que não podem ser chamados de grandiosos. Ou seja, é bônus mesmo.

Fellini sempre enfrentou dois tipos de preconceito. O primeiro diz respeito a sua conhecida autoindulgência. Muitos críticos não perdoam diretores ególatras, do tipo que colocam seus nomes nos títulos dos filmes, e por isso não conseguem enxergar a excelência de sua "mise-en-scène", que em "Satyricon de Fellini" e "Roma de Fellini" atinge o ápice, auxiliado por um dos maiores em sua área: o diretor de fotografia Giuseppe Rotunno. Esses dois filmes contam também com a colaboração do roteirista Bernardino Zapponi, que combinou tanto com Fellini que a parceria seria repetida em outros filmes, incluindo "Os Palhaços", realizado para a TV em 1970.

A trama de "Satyricon" não pode ser resumida sem uma boa dose de imprecisão. Basta dizer que acompanhamos as desventuras de dois grandes amigos, Encolpio (Martin Potter) e Ascilto (Hiram Keller), durante a decadência do Império Romano. Fellini não deixa claro o que é realidade e o que é delírio, aprofundando assim a experiência narrativa realizada em "Oito e Meio" e "Julieta dos Espíritos". Raras vezes podemos dizer que a beleza plástica de um filme é essencial. Aqui, é completamente adequada à visão de Fellini do que era a Roma antiga e da obra de Petrônio em que se baseou.

Ainda mais que "Satyricon", filme que fala da permanência de certa Roma antiga na Roma de fins dos anos 1960, "Roma" exemplifica o que é o estilo de Fellini. Fragmentado, onírico, documental e crítico, tudo ao mesmo tempo, trata-se de uma obra perfeita sobre Roma de todos os tempos. Cenas como a da escavação no metrô e a do desfile de moda eclesiástico ficam em nossa memória não só porque são muito bem filmadas, mas porque são filmadas de um jeito que nunca vimos antes no cinema.

Perto disso, o apenas bom "A Voz da Lua", sobre lembranças e delírios de um homem simples (Roberto Benigni), um apaixonado que acredita ser possível ouvir a voz da lua, empalidece. Melhor é o ótimo documentário que completa a coleção: "Ciao, Federico", de Gideon Bachmann, sobre as filmagens de "Satyricon".

A ARTE DE FEDERICO FELLINI
QUANTO: R$ 49,90
DIREÇÃO: FEDERICO FELLINI E GIDEON BACHMANN
GRAVADORA: VERSÁTIL


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