Folha de S. Paulo


Edição da "Ética", de Espinosa, resgata projeto gráfico original de 1677

ÉTICA

Depois da excelente tradução por Tomaz Tadeu (editora Autêntica), sai a aguardada e igualmente primorosa versão da "Ética", de Baruch Espinosa, pelo Centro de Estudos Espinosanos da USP. A edição bilíngue (latim-português) resgata o belo projeto gráfico da edição original de 1677. Isso não é detalhe ou fetiche, mas um indicador do desejo de rigor literal, no melhor sentido de uma edição "acadêmica".

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Capa de
Capa de "Ética"

Sem trocadilhos, o intuito ético da edição é franquear a obra do pensador que, diz o prefácio de Marilena Chauí (coordenadora da tradução e principal intérprete do pensador holandês no país), foi decisivo na revolta moderna contra a justificação intelectual da tirania, da superstição e, portanto, da vida infeliz.

Com a mesma paixão apostólica das centenas de páginas de "A Nervura do Real", a filósofa esboça as concepções revolucionárias de Espinosa -por exemplo, da identidade entre Deus e Natureza- e indica que a potência transformadora desse clássico é salientada pela semelhança e diferença entre seu contexto de origem e o das sucessivas gerações de seus leitores. (CAIO LIUDVIK)

ÉTICA
QUANTO: R$ 84 (600 PÁGS.)
AUTOR: ESPINOSA
EDITORA: EDUSP
TRADUÇÃO: CENTRO DE ESTUDOS ESPINOSANOS

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A UTILIDADE DO INÚTIL

Não é exatamente nova a indignação contra a tirania da mentalidade utilitária. Nem o protesto humanístico que, em defesa do valor "sui generis" da pesquisa pura, da filosofia ou da literatura, se insurge contra a desumanização mercantilista. Tampouco a condenação da espiral privatista que tende a reduzir a universidade a mera fábrica de diplomas. 

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Capa de
Capa de "A Utilidade do Inútil"

O filósofo italiano Nuccio Ordine retoma esses tópicos, mas o faz de uma maneira vigorosa e bela como a palavra "florilégio", que é a essência de seu exercício aqui: uma antologia de citações ou paráfrases alinhavadas e atualizadas por seu raciocínio próprio e contundente.

Ordine transforma em "co-signatários" de seu manifesto, entre outros argumentos, o célebre poema de Baudelaire sobre o poeta como albatroz capturado pela turba ignara; o conceito kantiano do belo como uma experiência de contemplação desinteressada do real; a crítica heideggeriana à civilização tecnocrática. (CAIO LIUDVIK)

A UTILIDADE DO INÚTIL
QUANTO: R$ 39,90 (224 PÁGS.) E R$ 19,90 (E-BOOK)
AUTOR: NUCCIO ORDINE
EDITORA: ZAHAR
TRADUÇÃO: LUIZ CARLOS BOMBASSARO

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ANTI-DÜHRING

Pela primeira vez em tradução do alemão, o livro de Engels é considerado, ao lado do "Manifesto Comunista", co-assinado com Marx, uma das introduções de maior impacto polêmico ao materialismo histórico. A carga polêmica se liga à ousadia dialética (ou temeridade positivista?) de estender à natureza os princípios filosóficos que explicariam o devir das sociedades. Mesmo no campo da esquerda, gigantes como Lukács e Sartre não perdoariam o Robin da dupla dinâmica por "adulterar" o pensamento do mestre, ao confundir o que é próprio do homem, como sujeito criador de sua história.

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Capa de
Capa de "Anti-Dühring", de Engels

De todo modo, vemos aqui Engels na sua melhor forma como polemista, embora seu adversário, Eugen Dühring, represente uma alternativa de socialismo que logo cairia no esquecimento. Assim como na "Ideologia Alemã", em que o alvo dele e Marx era o anarquismo individualista de Stirner, "Anti-Dühring" mostra que, para uma teoria crítica de fins não só especulativos, mas prático-políticos, o gênero da réplica intelectual, não sem doses generosas de veneno satírico, é necessário para o duplo movimento de combater e construir. (CAIO LIUDVIK)

ANTI-DÜHRING
QUANTO: R$ 59 (384 PÁGS.)
AUTOR: FRIEDRICH ENGELS
EDITORA: BOITEMPO
TRADUÇÃO: NÉLIO SCHNEIDER


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