Folha de S. Paulo


Coletâneas de Alves da Costa reforçam desencanto com correntes modernas

Na introdução ao livro de poemas "Balada para os Últimos Dias", Eduardo Alves da Costa confessa não ter "medo de parecer discursivo" e critica "correntes" da poesia contemporânea que produzem "pasteizinhos de nata", resultado de um desbaste da linguagem poética que a torna "quase esquelética".

O longo texto que vem em seguida, em alguma medida, reforça o vazio do argumento requentado, como se o tamanho do poema fosse medida segura de sua pertinência, ou não. O descarnamento pode estar justamente nos lugares-comuns arrolados para desancar a modernidade, sem Deus e dominada pela ciência, em contraponto a um tempo idealizado.

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Balada para os Últimos DiasAUTOR Eduardo Alves da CostaEDITORA Sesi EditoraQUANTO R$ 45 (136 págs.)AVALIAÇÃO
"Balada para os Últimos Dias"

O mesmo desencanto e a mesma ironia saudosista dão o tom aos contos reunidos em "Cem Gramas de Buda" e "A Sala do Jogo". No primeiro, os personagens são fantasmas da geração beat, vagando pelo mundo como zumbis românticos em busca de um nirvana de ocasião; a droga, nessa travessia, pode ser sintética ou uma sacada zen. No segundo, formado por seis contos longos, o autor enfrenta questões mais elevadas, com referências literárias, como num derradeiro conto narrado por Sherazade, quando não havia mais a ameaça de morte, ou o drama de Luiz Ignácio Mascarenhas, que perdeu os documentos e a memória, embarcando numa viagem quase borgeana.

Ainda que prevaleçam, tanto no poema como na maioria das narrativas, as preocupações com o sentencioso, com o ensinamento moral, com a busca de verdades perdidas, num passado idílico, em certos momentos a elegância se impõem e o leitor volta às incertezas da relação entre literatura e realidade.

Alves da Costa escreveu em 1968 um poema intitulado "No Caminho com Maiakóvski", que dá título a coletânea homônima, publicada nos anos 1980, e fez muito sucesso em sucessivos períodos: alguns versos emblemáticos desse longo poema circularam em cartazes e camisetas durante movimentos contra a ditadura e pelas eleições diretas, mas acabaram sendo atribuídos ao poeta russo mencionado no título. A edição bem cuidada de seus três livros agora talvez repare a injusta recepção daquele texto emblemático.

BALADA PARA OS ÚLTIMOS DIAS
QUANTO: R$ 45 (136 PÁGS.)
AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
EDITORA: SESI

Cem Gramas de Buda
QUANTO: R$ 64 (256 PÁGS.)
AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
EDITORA: SESI

A Sala do Jogo
QUANTO: R$ 69 (312 PÁGS.)
AUTOR: EDUARDO ALVES DA COSTA
EDITORA: SESI


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