Folha de S. Paulo


'Crimes Exemplares' ganha ilustrações do cartunista argentino Liniers

CRIMES EXEMPLARES

Este clássico moderno da literatura faz jus à sua condição, e nunca envelhece. Para sair de moda, "Crimes Exemplares" teria de contar com o súbito desinteresse da humanidade pelo tema do livro, o assassinato. Como sabemos, tais chances são pequenas.

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Capa de "Crimes Exemplares"

Além da linguagem precisa de Max Aub (1903-1972), um escritor espanhol nascido em Paris, "de avós alemães; com netos ingleses e mexicanos" (como ele descreveu o próprio desenraizamento), responsável pela exatidão destes contos e microcontos sobre mortes de todo tipo —violentas, inesperadas, líricas-, o que está em jogo aqui é o humor negro.

Inimigo mortal do sentimentalismo, Aub desvela a proporção de nosso ridículo: "Como eu podia permitir que ele se deitasse com uma mulher que tinha o coração transplantado de Maria?"

Não bastassem os relatos, as ilustrações em vermelho e negro do cartunista argentino Liniers atribuem outra condição a esta edição da Livros da Raposa Vermelha: a de imperdível. (JOCA REINERS TERRON)

CRIMES EXEMPLARES
QUANTO: R$ 34,90 (96 págs.)
AUTOR: Max Aub
TRADUÇÃO: Sérgio Molina
ILUSTRAÇÕES: Liniers
EDITORA: Livros da Raposa Vermelha

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NOVELAS INSÓLITAS

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Capa de "Novelas Insólitas"

Stefan Zweig é mais conhecido por dois fatos infelizes: o de ter cunhado a expressão "Brasil, País do Futuro", quando de sua primeira visão da tupiniquimlândia, e por ter se suicidado em Petrópolis (um fato não tem nada
a ver com o outro). Felizmente, a Zahar tem divulgado a obra deste grande intelectual judeu austríaco, que viveu a efervescência cultural vienense antes que a bela cidade tivesse o nome manchado pelo medíocre pintor Adolf Hitler.

Este volume reúne narrativas fantásticas, escritas em estilo sóbrio, crivadas por muita referência erudita. Cada texto recebeu um saboroso comentário do jornalista Alberto Dines, que também biografou o escritor -a quem adjetiva como "um sereno colecionador de desesperos". Destaque para "A Coleção Invisível", sobre um colecionador de arte que ficou cego -mas que segue fruindo a "visão" dos quadros que a família, na verdade, vendeu para pagar dívidas. Uma história desesperadora, porém contada com serenidade —como quem escolhe o paraíso para morrer. (RONALDO BRESSANE)

NOVELAS INSÓLITAS
QUANTO: R$ 49,90 (280 págs.) e R$ 34,90 (e-book)
AUTOR: Stefan Zweig
TRADUÇÃO: Kristina Michahelles
EDITORA: Zahar

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A ÚLTIMA FUGITIVA

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Capa de "A Última Fugitiva"

Tracy Chevalier é autora de romances históricos de fácil absorção, sem muita pretensão artística, mas deliciosos de ler numa fila, no metrô ou no ônibus. O best-seller "Moça com Brinco de Pérola", traduzido para quase 40 idiomas, deu-lhe fama internacional. Recriado para o cinema por Peter Webber, o romance trata da rotina do pintor holandês Johannes Vermeer e da elaboração de uma de suas obras-primas. "A Última Fugitiva", oitavo livro de Chevalier, lançado em 2013, é o primeiro a tratar de um tema norte-americano: a Ferrovia Subterrânea, uma rede de rotas secretas usadas pelos escravos fugitivos, em meados do século 19.

A protagonista é uma jovem inglesa que atravessa o Atlântico para tentar a sorte em Ohio. Ela pertence à Sociedade Religiosa dos Amigos e um dos pontos fortes da narrativa são os detalhes da vivência da comunidade quaker.

A tradição da colcha de retalhos representando um mapa de afetos, antiga entre as mulheres norte-americanas, é outro ponto marcante do romance. (NELSON DE OLIVEIRA)

A ÚLTIMA FUGITIVA
QUANTO: R$ 45 (322 págs.)
AUTOR: Tracy Chevalier
TRADUÇÃO: Beatriz Horta
EDITORA: Bertrand Brasil

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REVIVAL

Infelizmente, o rei está perdendo a majestade. O autor do mediano "Revival" não é o mesmo de "Carrie, a Estranha", "O Iluminado" e "A Coisa", obras-primas da ficção de angústia e horror. Em seus livros mais recentes, o que antes era obscuro e perverso se tornou familiar demais, perdeu o veneno. O demônio interior, agora domesticado, já não assusta tanto.

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Capa de "Revival"

O assunto de "Revival" é a vida espiritual após a morte corporal. A crise religiosa e as curas milagrosas do reverendo Charles Jacobs, por meio da enigmática "eletricidade secreta", alimentam os fantasmas do porra-louca Jamie Morton, levando-o a se aproximar de um portal que não deve jamais ser aberto.

Nessa trama sobre experiências nefastas com o além-túmulo, Stephen King reelabora elementos de dois contos clássicos: "O Grande Deus Pã", de Arthur Machen, e "O Chamado de Cthulhu", de H.P. Lovecraft. O resultado é palavroso. Onde os contos vencem por nocaute, o romance não vence nem empata por pontos. Perde por falta de malícia. (NO)

REVIVAL
QUANTO: R$ 49,90 (376 págs.) e R$ 29,90 (e-book)
AUTOR: Stephen King
TRADUÇÃO: Michel Teixeira
EDITORA: Suma

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O PÁSSARO DO BOM SENHOR

Vencedor do National Book Award de 2013, um dos mais importantes prêmios da literatura norte-americana, este romance situado no século 19 conta a história do menino Henry "Cebolinha" Shackleford, um ex-escravo resgatado pelo Velho John Brown, abolicionista histórico que queria libertar os EUA da escravidão por meio da guerra.

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Capa de O pássaro do bom senhor
Capa de O pássaro do bom senhor

Henry passa então a seguir o bando de foras da lei pelas andanças em estados como Kansas, Missouri e Virgínia, onde presencia batalhas famosas que antecederam a Guerra Civil Americana.

Recheado de peripécias, o livro faz lembrar a atmosfera de alguns dos últimos filmes de Tarantino, onde o rigor da composição de época, com seus figurinos, cenários e personagens típicos, contrasta com a linguagem bem humorada e rápida, arrancando risos do leitor, mesmo em face a carnificinas, abusos de poder e racismo, escancarando uma realidade nem sempre presente nos livros de história. (ROBERTO TADDEI)

O PÁSSARO DO BOM SENHOR
QUANTO: R$ 45 (378 págs.)
AUTOR: James McBride
TRADUÇÃO: Roberto Muggiati
EDITORA: Bertrand Brasil

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MEMÓRIAS DE UM EMPREGADO

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Capa de "Memórias de Um Empregado"

Se a palavra "escrever" fornece o roteiro deste romance-diário, a visualidade encarnada nos olhares irriga suas páginas, também repletas de cartas. De fato, o gênero epistolar embutido em fragmentos narrativos potencializa o registro telegráfico. As cenas, a paisagem ou as reflexões dessa ficção em primeira pessoa, de um empregado de pequena estação ferroviária às margens do rio Arno -tudo faz parte de uma viagem interior que passeia seu lirismo "sotto voce" por uma prosa em suspensão: "Lá está o canapé, convicto de sua honestidade, que se manifesta só de olhá-lo".

Assim, estas memórias do escritor de Siena, aparecidas em 1927, já postumamente, oferecem uma angustiosa trama provinciana em que o destino está em jogo, um observatório do minúsculo, de uma micro-vida que sempre pode ser cosmológica, abrangente em sua porosidade, em qualquer circunstância. Lúcidas notas finais de Maria Betânia Amoroso afinam a visão da modernidade da linguagem de Tozzi, a corrente alternada de sua pulsação. (ADOLFO MONTEJO NAVAS)

BRAZ VELLOSO
QUANTO: R$ 57,90 (144 págs.)
AUTOR: Federigo Tozzi
TRADUÇÃO: Maurício Santana Dias
EDITORA: Carambaia

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A RAINHA DO TRÁFICO

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Capa de "A Rainha do Tráfico"

Não ligue para a capa medonha e para a edição tosca, que parece impressa em fotocopiadora. Pérez-Reverte é um dos principais narradores espanhóis contemporâneos, e este livro, "que deu origem à série de TV" blablablá (essa expressão já deve vir como um atalho no teclado de editores preguiçosos), tem uma narrativa veloz, objetiva e com sangue nos olhos —-lembra às vezes o paraense Edyr Augusto Proença, no ritmo e na secura.

Difícil largar um livro que começa com a seguinte frase: "O telefone tocou e ela compreendeu que iam matá-la". Pelo apego à realidade imediata e pelo dom de construir ganchos e memoráveis cenas de sexo e violência, é uma espécie de Rubem Fonseca que tivesse sido vitaminado pelo jornalismo investigativo -PR é um jornalista superpremiado. A trama aqui romanceia a vida de Teresa Mendoza, a Mexicana, uma jovem que fugiu dos cartéis mexicanos para se tornar a maior traficante da Europa. Como dizem os editores preguiçosos, é "baseados em fatos reais" e numa minuciosa pesquisa de campo. (RONALDO BRESSANE)

BRAZ VELLOSO
QUANTO: R$ 59 (518 págs.)
AUTOR: Arturo Pérez-Reverte
TRADUÇÃO: Antonio Borges
EDITORA: Record

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O FOGO - DIÁRIO DE UM PELOTÃO

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Capa de "O Fogo-Diário de um Pelotão"

No início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando ainda não se tinha ideia de quanto tempo o conflito duraria e muita gente achava que aquela seria a guerra das guerras, que acabaria com todas as demais, o autor Henri Barbusse se alistou voluntariamente no exército francês e foi enviado para o front.

Na volta, escreveu e publicou "O Fogo", em 1915, levando o prêmio Goncourt do ano seguinte. Ou seja, antes mesmo de a guerra ter chegado à metade. É interessante notar como a atmosfera de esperança na humanidade contrasta com a descoberta dos horrores da guerra, tornando o livro um dos últimos relatos desse tipo na literatura ocidental, ainda com uma certa idealização narrativa que está mais para o século 19 do que para o 20.

Após o fim do conflito, não havia mais espaço para o sentimentalismo e o mundo não ficou livre das outras tantas guerras que se seguiram. O livro é, por isso mesmo, um retrato privilegiado, e excelente, de uma época. (ROBERTO TADDEI)

O FOGO - DIÁRIO DE UM PELOTÃO
QUANTO R$ 44 (404 págs.)
AUTOR Henri Barbusse
TRADUÇÃO Lívia Bueloni Gonçalves
EDITORA Mundaréu


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