Folha de S. Paulo


Clássico "Frankenstein" ganha nova edição com textos de outros autores

FRANKENSTEIN OU O PROMETEU MODERNO

"Frankenstein" foi escrito pela inglesa Mary Shelley em 1816 e publicado logo em seguida, para nunca mais sair de circulação. E lá se vão 200 anos do "Prometeu moderno" a povoar nosso imaginário. A ideia de um ser humano com capacidades criadoras divinas e suas implicações morais teria vindo das leituras de Ésquilo e Ovídio, que a autora fazia à época, quando foi provocada por Lorde Byron a escrever um conto de terror.

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Shelley tomou a ideia e a ampliou para uma narrativa entre o gótico e a ficção científica. O cientista Victor Frankenstein costura pedaços de corpos humanos e os reanima com impulsos elétricos, dando vida à "criatura" que todos conhecemos. Só para depois arrepender-se e ter a própria vida destruída.

Estão no livro a incorrigível vontade de alterar nossas fisionomias e antecipações dos problemas éticos surgidos com a biogenética, os transplantes e as próteses robóticas. A edição tem ainda excelente introdução de Maurice Hindle e textos de Byron, Percy Shelley e Ruy Castro. (ROBERTO TADDEI)

AUTOR: Mary Shelley
TRADUÇÃO: Christian Schwartz
EDITORA: Penguin-Companhia
QUANTO: R$ 34,90 (424 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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O PASSAGEIRO SECRETO

É dos mais antigos na literatura o tema do duplo ou "doppelgänger" —denominação germânica para um maléfico ser fantástico que duplica e segue alguém como sombra. Foi visitado por Guimarães Rosa, Poe, Borges, Maupassant e Dostoiévski. Conrad também trilha esse labirinto de espelhos na noveleta "O Passageiro Secreto", escrita por volta de 1880.

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Jovem capitão, que singra as águas misteriosas da Tailândia e é visto com olhos desconfiados pela tripulação, recolhe um homem -muito parecido com ele- que confessa ter fugido de outro navio após cometer assassinato. Em decisão injustificável, o capitão esconde o assassino.

No estilo descritivo de Conrad, o livro transita entre "thriller" psicológico e aventura náutica: por que o capitão ajuda o criminoso? Conseguirá ocultá-lo? Qual a real natureza da relação entre ambos? O livrinho ganhou edição genial: as folhas são duplas e, entre página e outra, há um desenho de Adrianne Gallinari; o exemplar vem acondicionado -ou escondido- numa bela caixinha. Acompanha glossário de termos náuticos. (RONALDO BRESSANE)

AUTOR: Joseph Conrad
TRADUÇÃO: Sergio Flaksman
EDITORA: Cosac Naify
QUANTO: R$ 49,90 (56 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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DRAMATURGIA ELIZABETANA

Em mais um legado deixado pela saudosa rainha da crítica teatral brasileira, Barbara Heliodora (morta em abril), saem suas traduções de autores que foram precursores imediatos e fundamentais de Shakespeare, embora inevitavelmente eclipsados pela glória do Bardo, amor maior da carreira de Heliodora.

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Trata-se de Thomas Kyd ("A Tragédia Espanhola") e sobretudo de Christopher Marlowe, com "Tamerlão" e "A Trágica História do Doutor Fausto", primeira das grandes versões do mito literário que, de Goethe a Thomas Mann, de Fernando Pessoa a Guimarães Rosa, viria a sintetizar a aventura existencial do homem moderno, em sua grandeza e seus abismos "mefistofélicos".

O título da coletânea alude ao peculiar teatro renascentista inglês, marcado pela celebração não só da emancipação do homem frente à teocracia medieval, mas também da autoafirmação política e cultural do país durante o reinado de Isabel 1ª, entre 1558 e 1603. (CAIO LIUDVIK)

ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO: Barbara Heliodora
EDITORA: Perspectiva
QUANTO: R$ 65 (346 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo


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