Folha de S. Paulo


Escritora aborda "primeiras vezes" relacionadas ao sexo em HQ erótica

PRIMEIRAS VEZES

A francesa Sibylline, conhecida escritora e roteirista de HQs em seu país, resolveu se aventurar no campo do explícito. Escreveu dez histórias picantes cujo tema é a "primeira vez" em diferentes experiências sexuais: a primeira transa, a primeira vez com o brinquedo no sex shop, com um casal num clube de swing, com uma boneca, com um filme pornô.

Divulgação
guialivros82 -- Primeiras Vezes

Os capítulos têm como protagonistas mulheres e são ilustrados por quadrinistas diferentes. Com alguns deles, o roteiro de Sibylline casa-se muito bem. Os destaques são a história que abre o volume, desenhada pelo quadrinista francês Alfred; a segunda, ilustrada pela francesa Capucine, que exibe a beleza de seu traço numa história divertida; e a penúltima, denominada "Sodomia", ilustrada pelo francês Dominique Bertail.

O objetivo da autora é oferecer um ponto de vista feminino ao universo picante, em geral associado às fantasias masculinas. Mas o mérito maior é reunir num único volume desenhistas tão talentosos como esses três. (MARIO BRESIGHELLO)

AUTOR: Sibylline
TRADUÇÃO: Fernando Scheibe
EDITORA: Nemo
QUANTO: R$ 39,90 (122 págs.) e R$ 27,90 (e-book)
AVALIAÇÃO: bom

*

HOJE É O ÚLTIMO DIA DO RESTO DA SUA VIDA

Em 1984, a austríaca Ulli Lust viajou clandestinamente com a melhor amiga, Edi, para a Itália. Eram duas adolescentes punks anarquistas em busca de diversão, sobrevivendo de esmolas e favores sexuais. Foram de carona até perto da fronteira —nessa época, ainda controlada, exigindo passaporte—, atravessaram a floresta e iniciaram a conquista do incrível país da ópera e do espaguete. Anos depois, a aventura rendeu esta história intimista, ganhadora do prêmio Ignatz 2013 de novela gráfica.

Divulgação
guialivros82 -- Hoje é o último dia do resto da sua vida

Na camada mais profunda da narrativa corre um irreverente manifesto político, contra a sociedade machista e o consumismo. O humor –principalmente o humor erótico– é uma das qualidades mais salientes do trabalho de Ulli Lust.

Sua crônica de viagem é o desejo mal realizado de uma praia aconchegante, que logo revela a possibilidade de um afogamento. O traço ora delicado, ora nervoso, misturando grafite e tinta com uma aplicação posterior de áreas verdes, intensifica a sensação de pânico iminente. (NELSON DE OLIVEIRA)

AUTOR: Ulli Lust
TRADUÇÃO: Augusto Paim
EDITORA: WMF Martins Fontes
QUANTO: R$ 79,90 (464 págs.)
AVALIAÇÃO: muito bom

*

PÍLULAS AZUIS

O quadrinista suíço Frederick Peeters já era bem conhecido antes do lançamento de "Pílulas Azuis", em 2001. Depois, tornou-se quase celebridade, principalmente na Europa. "Pílulas Azuis" ganhou um prêmio importante no festival de Angoulême, na França, uma espécie de Festival de Cannes dos quadrinhos, e foi indicado para muitos outros prêmios.

Divulgação
guialivros82 -- Pílulas azuis

Não é por acaso: a fama se deve à sensibilidade com a qual ele conta a própria história. Peeters reencontrou uma antiga amiga de colégio por quem se interessava desde jovem. Eles começam a namorar, apaixonam-se e ela revela ser portadora do vírus da Aids. Assim começa a "aventura": eles se casam, têm dificuldades para se tornarem íntimos, enfrentam preconceitos, convivem com o médico e o enteado. A leveza do texto, associado ao traço grosso e extremamente gestual, infundem curiosidade e prazer no leitor. O resultado é uma experiência que emociona sem chantagem.

No percurso, o leitor experimenta emoções complexas e torce para que tudo dê certo. E termina concordando com Peeters que, numa entrevista, afirmou que sua HQ nada mais é do que "uma simples história de amor". (MB)

AUTOR: Frederik Peeters
TRADUÇÃO: Fernando Scheibe
EDITORA: Nemo
QUANTO: R$ 39,90 (208 págs.) e R$ 27,90 (e-book)
AVALIAÇÃO: ótimo

*

A PROPRIEDADE

Para compor os personagens dessa delicada narrativa gráfica sobre separação e reparação, a israelense Modan usou um grupo de atores. O diálogo entre a fotografia e o desenho, aliado ao roteiro atento às mínimas expressões do corpo, recuperou algo da linguagem mais naturalista das antigas fotonovelas. O resultado é fluido e intenso, com algo do estilo do belga Hergé, com quem Modan já foi comparada.

Divulgação
guialivros82 -- A Propriedade

Em "A Propriedade", uma avó e sua neta voam de Tel Aviv a Varsóvia para tentar recuperar um imóvel da família, perdido durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o que era para ser uma rápida viagem de negócios logo se transforma num doloroso reencontro com o passado afetivo destruído pela sanha nazista.

O jogo de interesses conflitantes movimenta meia dúzia de personagens num cenário com forte emanação histórica. Modan é talentosa na composição de momentos íntimos, porém mais ainda na organização de multidões. A cena no aeroporto e a cena no cemitério provam isso. (NO)

AUTORA: Rutu Modan
TRADUÇÃO: Marcelo Brandão Cipolla
EDITORA: WMF Martins Fontes
QUANTO: R$ 69,90 (224 págs.)
AVALIAÇÃO: muito bom


Endereço da página: