Folha de S. Paulo


Chico César cria xote de coloração pop no disco de inéditas "Estado de Poesia"

ESTADO DE POESIA

"Acorda, acordeon, que eu tô sonhando". O primeiro verso de "Caninana", um irresistível xote de coloração pop, já antecipa o que vai se ouvir. Em "Estado de Poesia", seu primeiro disco de canções inéditas desde 2008, o compositor e cantor Chico César retoma seu ofício artístico, com evidente prazer, depois de passar seis anos atuando como gestor público de cultura na Paraíba, onde nasceu.

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Em entrevistas, Chico tem dito que esse CD tem dois lados diversos. Em um deles, o compositor desfia canções que falam de sua intimidade, como "Palavra Mágica", "Atravessa-me" ou a própria faixa-título, cheias de romantismo. Por outro lado, há canções de viés social, como o reggae "Negão", que aborda o racismo, ou a indignada "Reis do Agronegócio" (parceria com Carlos Rennó), com certa influência de Bob Dylan. Ainda nessa linha, "No Sumaré", um samba agridoce ao estilo de Adoniran Barbosa, também denuncia o preconceito. Por essas e outras, Chico César já estava fazendo falta. (CARLOS CALADO)

ARTISTA: Chico César
GRAVADORA: Urban Jungle/Natura
QUANTO: R$ 20
AVALIAÇÃO: muito bom

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PORTO DA MADAMA

Primeiro álbum na discografia do compositor e violonista Guinga, com canções que não são de sua autoria, "Porto da Madama" inclui releituras de alguns clássicos da música brasileira, como o samba-canção "Ligia", de Tom Jobim, ou a "Serenata do Adeus", de Vinicius de Moraes. Para interpretar esse repertório de essência romântica, Guinga convidou cantoras de origens e formações diversas: a brasileira Monica Salmaso, a italiana Maria Pia de Vito, a portuguesa Maria João e a norte-americana Esperanza Spalding.

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Ao idealizar esses emotivos arranjos para voz e violão, Guinga reviveu o tempo em que acompanhava o canto de sua mãe, Inalda, à qual dedicou o projeto. Mesmo quem estranhar a pronúncia ou a falta de naturalidade de algumas interpretações de Esperanza e Maria João, ainda pode se encantar com o violão de Guinga e a voz de Monica, em belezas como "Se Queres Saber" (de Peterpan) e "Ilusão Real" (Guinga e Zé Miguel Wisnik), entre outras. (CARLOS CALADO)

ARTISTA: Guinga
GRAVADORA: Selo Sesc
QUANTO: R$ 20
AVALIAÇÃO: bom

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SAMBA NA MADRUGADA

O título deveria ser "Na Madrugada", mas ao lançá-lo, por engano, a gravadora RGE tornou mais evidente o conteúdo deste álbum. Gravado em uma única noite, em 1966, inaugurou a discografia do compositor, cantor e violonista Paulinho da Viola, então com 23 anos. Ele dividiu o disco com Elton Medeiros, sambista mais experiente, do qual já havia se tornado parceiro.

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s como "Arvoredo" (de Paulinho) e "Minha Confissão" (de Elton) indicam os dotes de dois grandes melodistas. Além do sucesso "Rosa de Ouro", única parceria da dupla no álbum, os dois apresentam outras pérolas do gênero, como "O Sol Nascerá" (de Elton e Cartola), "Samba Original" (Elton e Zé Keti), "14 Anos" e "Recado" (ambas de Paulinho). Os arranjos instrumentais são simples, incluindo aqueles vocais femininos típicos do samba tradicional. Fora de catálogo há mais de uma década, "Samba na Madrugada" merece voltar ao mercado. Clássicos não envelhecem. (CARLOS CALADO)

ARTISTAS: Paulinho da Viola e Elton Medeiros
GRAVADORA: Kuarup
QUANTO: R$ 24,90
AVALIAÇÃO: muito bom

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MINHA ALDEIA

O compositor e cantor Marcelo Barra tinha 16 anos em 1976, quando ganhou um prêmio num festival de música com "Araguaia", dele e de Rinaldo Barra. Posteriormente, a música foi gravada por Fafá de Belém.

Depois disso, Marcelo ficou conhecido por cantar Goiás —seu povo, seus costumes, tradições, poesia e belezas naturais— com muita propriedade.

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"Minha Aldeia" traz 12 canções inéditas, entre elas, "Cora", com poema de Gilberto Mendonça Teles em homenagem à poeta Cora Coralina (1889-1985), e participações especiais, entre outras, da dupla goiana Jorge & Mateus.

Desta vez, Barra traz partes do Brasil para dentro de Goiás, reunindo estilos musicais diversos, intérpretes, músicos e compositores de diferentes regiões brasileiras. De São Paulo, figura Natan Marques, diretor musical do CD, que em parceria com Eliakin Rufino compôs "Chapéu de Couro" (participação de Elba Ramalho), e com João Samuel, "Na Fazenda" (participação de Renato Teixeira). (CARLOS BOZZO JUNIOR)

ARTISTA: Marcelo Barra
GRAVADORA: independente
QUANTO: R$ 27
AVALIAÇÃO: bom

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EDUARDO GUDIN & NOTÍCIAS DUM BRASIL 4

Desde seu início, em 1995,o grupo Notícias Dum Brasil, formado pelo compositor, violonista e arranjador paulistano Eduardo Gudin, já teve entre seus integrantes grandes talentos.

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Entre os arautos cantantes, ouviu-se Renato Braz, Fabiana Cozza, Luciana Alves, Maria Martha e Monica Salmaso. Hoje, o grupo é formado por quatro percussionistas e quatro vozes que executam arranjos vocais excelentes. Nas vozes, Ilana Volcov, Karine Telles, Maurício Sant'Anna e Cezinha Oliveira. No "baticum" do saboroso molho percussivo, Raphael Moreira, Oswaldo Reis, Ewerton de Almeida e o célebre Jorginho Cebion.

Nas 13 músicas do disco, parceiros antigos e alguns mais novos de Gudin. Dos habituais, Paulo César Pinheiro, com "Olhos Sentimentais", e Paulinho da Viola, com "Nem no Samba Eu Vou". Das novas parcerias, Carlos Lyra, com "O Amor e a Canção", e Theo de Barros, com "Não Era Assim", entre outros. Disco em que a tristeza é externada por uma musicalidade extremamente feliz. (CARLOS BOZZO JUNIOR)

ARTISTA: Eduardo Gudin
GRAVADORA: Dabliú Discos
QUANTO: R$ 27
AVALIAÇÃO: ótimo

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TRANSMUTAÇÃO

Uma das bandas brasileiras que melhor traduzem o groove norte-americano neste século, BNegão & Seletores de Frequência, extravasam as fronteiras do funk para flertar com o dub e o samba, criando uma linguagem própria. A estreia em disco, "Enxugando Gelo" (2003), já deixava a intenção bem clara: mexer com as ideias e os quadris. "Sintoniza Lá" (2012), o álbum seguinte, confirmou o talento exercitado incansavelmente em imbatíveis apresentações ao vivo.

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"Transmutação", o novo trabalho, traz, por exemplo, a combinação improvável de surf-rock com referências ao criador do ethio jazz, Mulatu Astatke ("Surfin' Astatke"). Já "No Ar" promove o encontro da ciranda com os beats eletrônicos. A partir de uma estrutura aparentemente simples à base de guitarra (Fabiano Moreno), baixo (Fabio Kalunga), bateria (Robson Riva) e trompete (Pedro Selector), além da voz de trovão do vocalista, o grupo é capaz de fazer tremer a música brasileira —ao vivo ou nos fones de ouvido. (LÍGIA NOGUEIRA)

ARTISTAS: BNegão & Seletores de Frequência
GRAVADORA: Natura Musical
QUANTO: R$ 20 (CD) ou download gratuito em bnsf.com.br
AVALIAÇÃO: muito bom


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