Folha de S. Paulo


Confira dois clássicos da literatura avaliados como ótimos pelo 'Guia'

HAMLET

Esta serelepe tradução de Lawrence Flores Pereira —"Por favor, repitam a fala como a pronunciei, com língua bem ágil", diz o protagonista na abertura do Ato 3— renova para o público brasileiro o velho tema de vingança eternizado por Shakespeare e Mel Gibson. Sim, eternizado pelo grande Will, porém de suposta autoria do dramaturgo Thomas Kyd, de quem o bardo de Stratford-upon-Avon teria adaptado algumas partes, além de criado outras.

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Hamlet, por William Shakespeare
Hamlet, por William Shakespeare

O ambíguo prefácio de T.S. Eliot (meio irritadiço, desce a lenha em abordagens anteriores de Goethe e Coleridge) explica, porém, o grande achado da versão que chegou até nós: encontrar um "correlato objetivo" para traduzir os sentimentos intraduzíveis de Hamlet diante da traição da mãe, a rainha infiel.

Esse "conjunto de objetos, uma situação, um encadeamento de eventos" formula a "emoção particular" sentida pelo príncipe que Eliot brilhantemente compara com a rebelião sem causa da adolescência. (JOCA REINERS TERRON)

Autor: William Shakespeare
Tradução: Lawrence Flores Pereira
Editora: Penguin-Companhia
Quanto: R$ 29,90 (320 págs.)
Avaliação: ótimo

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O QUARTO LIVRO DOS FATOS E DITOS HEROICOS DO BOM PANTAGRUEL

Como um livro de viagens, passando por estranhas ilhas, com seres deformados ou caricatos, "O Quarto Livro dos Fatos e Ditos Heroicos do Bom Pantagruel" é uma sátira mordaz da sociedade e dos homens, e dá sequência ao universo criado pelo escritor renascentista francês François Rabelais em seus livros de aventura, como "O Terceiro Livro dos Fatos e Ditos Heroicos do Bom Pantagruel", publicado aqui em 2007, com premiada tradução de Élide Valarini Oliver, professora de Literatura Brasileira da Universidade da Califórnia.

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O Quarto Livro dos Fatos e Ditos Heroicos do Bom Pantagruel, por François Rabelais
O Quarto Livro dos Fatos e Ditos Heroicos do Bom Pantagruel, por François Rabelais

Doutor em Medicina, como ele fez questão de estampar no livro logo abaixo de seu nome, Rabelais, como diz Otto Maria Carpeaux, era um "humanista erudito e humorista extravagantíssimo". Publicado em 1548 e depois em 1552, com acréscimos, este "Quarto Livro" segue o modelo dos livros de viagem, tão em voga na sua época.

A propósito de encontrar um oráculo para o personagem Panurge e resolver a dúvida se ele deve ou não se casar, os pantagruelistas fazem uma viagem de navio passando por vários lugares topando figuras bizarras que servem para que Rabelais "pinte uma das mais importantes e radicais sátiras da literatura ocidental", como diz a tradutora, no seu ensaio introdutório, criticando comportamentos e atitudes de certos grupos, como "os procuradores, as belicosas linguiças protestantes, os adoradores do 'Deus em terra', o papa, que o preferiam a adorar a Deus, a hipocrisia do clero, as superstições do catolicismo". Tudo isso vazado pelo estilo inventivo de Rabelais, que a tradutora procurou recriar em português. (HEITOR FERRAZ MELLO)

Autor: François Rabelais
Tradução: Élide Valarini Oliver
Editora: Ateliê/Unicamp
Quanto: R$ 120 (304 págs.)
Avaliação: ótimo

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Gravura de Gustave Doré para o clássico de Rabelais
Gravura de Gustave Doré para o clássico de Rabelais

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