Folha de S. Paulo


Confira dois ensaios e uma crítica avaliados como ótimos pelo 'Guia'

MULHER, CASA E CIDADE

Muito oportuna a reflexão do poeta Antonio Risério sobre os conteúdos do feminino na raiz da cultura brasileira, como elemento de construção histórica não apenas de gênero, mas também matriz formadora de nossa identidade na dimensão religiosa do candomblé, nas artes ou na arquitetura, com figuras como Lota de Macedo Soares e Lina Bo Bardi.

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O conjunto de ensaios, múltiplo na forma e nos temas, propõe conexões entre o ambiente doméstico, mais próximo do corpo, da intimidade, e a cidade como instância do "artifício humano", do coletivo, dos conflitos ideológicos, da luta pelo espaço físico e político, econômico e estético. Ambas, casa e cidade, carregam a expressão da mulher e representam na essência necessidades, críticas, desejos, criações, ainda que historicamente relegadas a plano secundário ou sitiadas pela visão de mundo masculina.

Risério busca uma antropologia poética de nossa formação social, questionando paradigmas consagrados, para desvelar essas marcas do feminino desde a linguagem, tão cara à poesia. (REYNALDO DAMAZIO)

AUTOR: Antonio Risério
EDITORA: 34
QUANTO: R$ 59 (424 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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OS EIXOS DA LINGUAGEM

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Há décadas Luiz Costa Lima se dedica a pensar o estatuto da literatura a partir de conceitos como o de "mímesis" (a chamada imitação da vida pela arte, termo chave que remonta a Aristóteles) e de controle do imaginário na cultura ocidental.

O chamado "veto à ficção" tem entre suas estratégias a desvalorização do poder cognitivo de toda forma de linguagem que não se subordine ao conceito racional, empiricamente testável, próprio da mentalidade científica. Mas o conceito, mostra ele em seu novo livro, não é o topo da pirâmide das formas discursivas do ser humano. É, isso sim, um dos dois grandes "eixos da linguagem" de que trata o título.

O outro é o eixo metafórico, que o professor emérito da PUC-RJ investiga em profundidade, dialogando com Heidegger, Husserl e, em especial, Hans Blumenberg, do qual traduz, em anexo, importante texto sobre as raízes da racionalidade moderna. (CAIO LIUDVIK)

AUTOR: Luiz Costa Lima
EDITORA: Iluminuras
QUANTO: R$ 53 (274 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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O USO DA POESIA E O USO DA CRÍTICA

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Essas conferências apresentadas por T.S. Eliot no início dos anos 1930, em Harvard, tocam em questões cruciais nas relações incertas entre poesia e crítica literária, especialmente pela redução dos espaços para reflexão sobre literatura e o encastelamento da análise mais detida nas universidades, onde a literatura agoniza.

Como grande poeta e leitor de poesia, Eliot tenta responder a duas questões fundamentais: "O que é poesia? Este é um bom poema?". Naquele momento, o poeta já dispunha de dois bons aparatos de investigação, o formalismo russo do início do século e o "close reading" (leitura fechada do texto literário) norte-americano, que resultaria no "new criticism".

A poesia é encarada como modelo de formação da sensibilidade e da cultura, com sua ascendência e tradição constituída histórica e espiritualmente. O percurso das palestras para estabelecer os parâmetros do poético e do poeta como crítico passa por Dryden, Wordsworth, Coleridge, Shelley e Keats, entre outros, tentando configurar o que ele chama de "a mente moderna". (REYNALDO DAMAZIO)

AUTOR: T.S. Eliot
TRADUÇÃO: Cecilia Prada
EDITORA: É Realizações
QUANTO: R$ 44,90 (160 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo


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