Folha de S. Paulo


Filme sobre Kurt Cobain usa animação para dramatizar eventos sensíveis

JOGOS VORAZES - A ESPERANÇA: PARTE 1

Após um começo tateante dirigido por Gary Ross, a franquia "Jogos Vorazes" passou a ser assinada por Francis Lawrence, que fez um belo segundo episódio com um sugestivo subtítulo: "Em Chamas". O terceiro e último episódio tem duas partes, o que transforma a série numa tetralogia.

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Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é cooptada por uma organização de rebeldes liderada por Alma Coin (Julianne Moore), que visa a destruição da capital governada pelo tirano Snow (Donald Sutherland). Ao mesmo tempo, Katniss quer resgatar seu novo amor Peeta Mellark (Josh Hutcherson), com a ajuda de Haymitch (Woody Harrelson) e Plutarch (Philip Seymour Hoffman, a quem o filme é dedicado).

O diretor insere elementos interessantes: apesar da doçura de Alma Coin, a organização rebelde parece uma célula fascista; Katniss está cada vez mais perturbada; por fim, nada parece ser real. A pulga foi suficientemente bem colocada atrás de nossas orelhas, deixando-nos ansiosos pelo próximo longa. (SÉRGIO ALPENDRE)

DIRETOR: Francis Lawrence
DISTRIBUIDORA: Paris
QUANTO: R$ 39,90 (DVD) e R$ 59,90 (Blu-ray)
AVALIAÇÃO: bom

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A QUEDA DA CASA DE USHER

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O título que inaugura o ciclo de oito filmes em que o diretor-produtor Roger Corman adaptou contos macabros de Edgar Allan Poe demonstra como o terror antes do "gore", o espetáculo de vísceras e sanguinolência, podia ser um gênero mais próximo do fantástico. A trama toda passada num castelo era sob medida para os orçamentos curtos, típicos das produções de Corman, cujo método associava poucos recursos e muita criatividade. A cenografia exígua e o elenco mínimo eram compensados pela invenção visual e pelo uso do Technicolor, único luxo que valoriza o espetáculo de cores saturadas.

Vincent Price faz o nobre aloprado com a ideia de uma maldição na família e que submete a irmã a seus delírios. O roteiro assinado pelo escritor Richard Matheson não busca ser fiel ao texto original, mas o reinterpreta, sugerindo como Poe teria narrado sua história se em vez de papel e tinta tivesse usado câmeras. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

DIRETOR: Roger Corman
DISTRIBUIDORA: Versátil
QUANTO: R$ 19,90
AVALIAÇÃO: muito bom

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IMAGENS

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É essencial que possamos acompanhar e entender a obra de um grande cineasta, como o foi o americano Robert Altman (1925-2006), também por filmes que talvez representem desvios de percurso em relação àqueles que o consagraram. É o caso destas "Imagens" (1972), que funcionam como música de câmara em relação à coralidade e às múltiplas narrativas de obras-primas como "Nashville" (1975) ou "Short Cuts" (1993). Trata-se de música invadida por sons estranhos, tensa, perturbadora... Fascinante, embora os anos tenham roubado um pouco de seu brilho "experimental", que outros autores, como David Lynch, se encarregaram de refinar.

O diretor flerta com o terror psicológico e o suspense ao focar a escritora Cathryn (Susannah York) e seu marido numa casa de campo isolada. O mergulho no processo de escrita de um livro para crianças ("À Procura de Unicórnios", da própria York) leva Cathryn (e o filme) a abraçar certa esquizofrenia latente e erotizada, que desagrega os limites do real. (Roberto Alves)

DIRETOR: Robert Altman
DISTRIBUIDORA: Versátil
QUANTO: R$ 39,90
AVALIAÇÃO: bom

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VÍCIO INERENTE

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Esta adaptação do romance de Thomas Pynchon confirma o cineasta Paul Thomas Anderson ("Sangue Negro") como um dos poucos, entre os que têm visibilidade na mídia e trabalham com atores do mainstream —Joaquin Phoenix, de seu também excelente "O Mestre"(2012)—, a fazer cinema inteligentíssimo e pouco concessivo ao gosto médio e ao consumo rápido.

O belo plano inicial entre casas na praia nos conduz aos anos 1970, quando o sossegado e atípico detetive particular Doc Sportello (Phoenix, brilhante), movido mais pela paixão por uma ex-namorada do que por "ofício", se deixa enredar por (mais que investigar) mirabolante ciranda de desaparecimentos, assassinatos e "americanices" em geral.

Anderson chega ao requinte de ser ainda mais "literário" que o genial escritor que adapta, ao deslocar para uma personagem secundária —a Sortilège de Joanna Newsom— instigante, lírico e pouco explicado viés narrativo, que torna a irônica e intencional "confusão" da trama ainda mais fascinante. (Roberto Alves)

DIRETOR: Paul Thomas Anderson
DISTRIBUIDORA: Warner
QUANTO: R$ 39,90 (DVD) e R$ 69,90 (Blu-ray)
AVALIAÇÃO: ótimo

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COBAIN - MONTAGE OF HECK

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Não era tarefa fácil fazer um filme sobre Kurt Cobain, líder de uma das bandas de rock mais bem-sucedidas dos últimos tempos: Nirvana. A rebeldia do músico, seu vício em heroína e sua tendência ao autoboicote e ao suicídio tendem a descambar para o sensacionalismo, quando não para o moralismo mais rasteiro. Alguns momentos do filme esbarram nisso, e a experiência de vê-lo na íntegra só é agradável quando a música fica no primeiro plano.

É discutível a ideia de dramatizar partes da vida do músico por meio da animação. O uso constante de seus escritos chega a cansar, e algumas imagens caseiras de Kurt com a namorada, a cantora e atriz Courtney Love, são desagradáveis como qualquer invasão da intimidade alheia. Para piorar, o didatismo na cronologia artística é praticamente abandonado em favor dos escândalos. Por causa dessa estrutura, a duração do filme —mais de duas horas— revela-se insuficiente para quem deseja entender o preço do sucesso e de uma família disfuncional na cabeça de um jovem inseguro. (SÉRGIO ALPENDRE)

DIRETOR: Brett Morgen
DISTRIBUIDORA: Universal
QUANTO: R$ 29,90 (DVD) e R$ 59,90 (Blu-ray)
AVALIAÇÃO: regular

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GRANDES OLHOS

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No cinema de Tim Burton, as extravagâncias de estilo exprimem uma recusa das limitações do mundo, mas tanta imaginação às vezes assume a forma de um abrigo pouco seguro contra tudo.

"Olhos Grandes" retoma esses temas para jogar ácido na visão da arte como lugar de beleza e salvação. Walter Keane é um falso artista cuja celebridade depende dos quadros kitsch que Margaret, sua mulher, pinta para satisfazer ao duvidoso gosto popular e à necessidade de fama do marido. Aos poucos, a crença dela no status especial da arte se esvai quando vê que o sucesso financeiro depende só da reprodução infinita em pôsteres, como os artistas cuja celebridade se baseia na repetição. Até que a fachada de casamento feliz com que ela sonha se desfaz e mostra a cara dura da mentira.

Na batalha judicial do final, Burton assume o risco de ser desconfortável e desagradar o público fiel ao aspecto bibelô de seu cinema. Desse modo, demonstra que mesmo os mais perfeitos ilusionistas preferem não acreditar cegamente nos seus truques. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

DIRETOR: Tim Burton
DISTRIBUIDORA: Paris
QUANTO: R$ R$ 29,90 (DVD) e R$ 69,90 (Blu-ray)
AVALIAÇÃO: muito bom


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