Folha de S. Paulo


Historiador reconta em livro a presença francesa no Brasil colonial

PELOS CAMINHOS DA HISTÓRIA

Historiador "de coração", o diplomata Vasco Mariz tem interesse especial na presença francesa no Brasil. Em "Pelos Caminhos da História", reunião de 18 artigos, alguns inéditos, Mariz investe de novo
no tema, com a mesma dose de polêmica.

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O autor defende a tese de que uma vila efêmera fundada por Villegagnon em 1556, quase dez anos antes da fundação do Rio, foi "a primeira aglomeração urbana europeia na baía da Guanabara", tirando assim a precedência dos portugueses.

No artigo mais polêmico, Mariz sustenta que o Brasil poderia ter perdido parte da região Nordeste para os franceses, não fosse pela vitória na Batalha de Guaxuenduba, no século 17. É polêmico porque o autor baseia o argumento numa especulação hipotética sobre os efeitos de algo que não aconteceu (no caso, a vitória francesa).

As boas provocações, contudo, compensam a falta de rigor, o que leva o historiador Ronaldo Vainfas a declarar, na apresentação, que o livro é "politicamente incorretíssimo, ainda bem". (OSCAR PILAGALLO)

AUTOR: Vasco Mariz
EDITORA: Civilização Brasileira
QUANTO: R$ 45 (294 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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MULHERES DOS OUTROS

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Como os viajantes cristãos medievais europeus viam as "mulheres dos outros", as mulheres do Oriente?

Ao se debruçar sobre relatos da época, a historiadora Susani Silveira Lemos França lança um novo olhar também sobre o homem medieval, pois, ao descrever aquelas mulheres do leste, eles revelam muito sobre si próprios.

A autora está interessada em analisar semelhanças entre as mulheres dos séculos 13 ao 15, mas registra algumas diferenças, como fato de as ocidentais valorizarem um modelo de recato e reserva que colocava em posição de destaque as que fossem "envergonhadas", enquanto as sarracenas eram "estrepitosas" e as tártaras, "imperiosas", para citar dois exemplos.

Apesar do apelo do tema, o livro é um trabalho acadêmico que não faz concessões ao leitor não acostumado à linguagem e ao jargão dos estudos historiográficos. (OP)

AUTOR: Susani Silveira Lemos França
EDITORA: Unesp
QUANTO: R$ 49 (230 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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A LUTA DE CLASSES

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É natural e coerente que um autor de esquerda se posicione contra a exploração de uma nação por outra ou da mulher pelo homem. Na realidade, nem seria necessário ser de esquerda, como o italiano Domenico Losurdo, uma vez que tais posições são hoje defendidas por um espectro ideológico bem mais amplo.

O problema de "A Luta de Classes" é a tentativa de conectar essa pauta às origens do marxismo, a partir de menções esporádicas de Marx e Engels. Como a obra dos dois filósofos é centrada numa concepção mais estrita de luta de classes —aquela que opõe capitalistas e proletários—, a leitura de Losardo soa um pouco forçada e artificial.

Fica a impressão de que o autor, professor de história da filosofia na Universidade de Urbino, procura uma chancela para justificar a validação desses temas, como se a opressão da mulher ou a luta anticolonialista dependessem da bênção de Marx. (OP)

AUTOR: Domenico Losurdo
TRADUÇÃO: Silvia de Bernardinis
EDITORA: Boitempo
QUANTO: R$ 67 (400 págs.)
AVALIAÇÃO: regular


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