Folha de S. Paulo


Livros traz quatro 'antipeças' para discutir teatro contemporâneo

O ESPAÇO VAZIO
"Posso pegar um espaço vazio e chamá-lo de um palco deserto. Um homem caminha por este espaço vazio enquanto outra pessoa o observa, e isso é tudo de que se precisa para dar início a um ato teatral". Essas palavras são o portal de abertura rumo a uma das estéticas mais influentes do teatro mundial desde fins dos anos 1960. No Brasil, repercute nas montagens de Antunes Filho ou Gerald Thomas, que assina prefácio desta edição.

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O manifesto já clássico de Peter Brook, na esteira da "orientalização" contracultural do Ocidente, defende um despojamento externo e interno, dos cenários e do ator, em comunhão imaginativa com o espectador, que completa em si o sentido sugerido na ribalta.

Isso tudo na contramão do que Brook designa de "teatro moribundo", de pompas e paetês que desfiguram a mensagem radical que clássicos como Shakespeare teriam para nós no aqui e no agora. Nome central da cena britânica e parisiense, pôs em prática tais preceitos em montagens célebres como a do épico hindu "Mahabharata". (CAIO LIUDVIK)

AUTOR: Peter Brook
TRADUÇÃO: Roberto Leal Ferreira
EDITORA: Apicuri
QUANTO: R$ 35 (224 págs.)
AVALIAÇÃO: muito bom

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PETER HANDKE: PEÇAS FALADAS
Elas podem parecer datadas. As quatro "Peças Faladas", de Peter Handke, foram escritas entre 1966 e 1967. O clima de contestação e rebeldia vaza pela forma dessas antipeças, já que nelas não há um enredo nem personagens delineados e o tempo da ação é o da representação, ou seja, nada daquilo que identifique o drama tradicional.

Nelas, a voz que entra em cena provoca um curto-circuito, ou -como diz Samir Signeu, organizador e tradutor das quatro peças- Handke adota a palavra como seu meio de expressão direta, "visando romper com a passividade do espectador ao questionar a função social do teatro e refletir criticamente a função da linguagem no faz de conta da realidade teatral".

O discurso, que nas peças pode ser proferido por uma pessoa, um casal ou dois casais, é provocador e contraditório, lembrando às vezes a colagem de frases cristalizadas dos mundos da publicidade e da ideologia. A linguagem despojada de metáforas entra em cena para ser criticada por ela mesma.

Talvez esteja aí a força e a beleza dessas quatro peças -primeiras obras importantes desse dramaturgo, poeta, romancista (de "O Medo do Goleiro Diante do Pênalti") e roteirista-, como também a sensação de algo datado, que, ao desconstruir pelo miolo a tradição moderna, reafirmava a própria ideologia. (HEITOR FERRAZ MELLO)

AUTOR: Peter Handke
TRADUÇÃO: Samir Signeu
EDITORA: Perspectiva
QUANTO: R$ 50 (240 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo


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