Folha de S. Paulo


Lenda de Moçambique é recontada como história de pai para filho

Quando os pássaros decidem nomear um líder, é o mocho quem ganha a eleição entre os bicudos. Sabe que bicho é esse? É uma espécie de coruja com penas acima da cabeça que parecem chifres.

E é justamente por isso que ele se torna rei. Só que os humanos, acostumados a governantes e monarcas, logo avisam aos pássaros que aqueles chifres do mocho são feitos de pena, e não de osso.

A tradicional lenda de Moçambique é recriada nesse livro como se um pai contasse a história para o seu filho -uma ótima oportunidade para crianças brasileiras conhecerem aventuras de um país onde o português também é língua oficial.

As páginas são ilustradas pelo moçambicano Americo Lavale, que tinge a história com as cores desse país da África.

Leia abaixo entrevista com o autor.

Folhinha - No livro, o conto original é recontado, como se fosse um pai narrando a história para o seu filho. Como isso modifica o original?
Ungulani Ba Ka Khosa - Convencionou-se com a editora a reescrita de um conto tradicional. Ao autor cabia, no quadro da narrativa tradicional, conceber outra estrutura narrativa. No caso, quis dar um cunho mais didático, fora da tradicional convenção de texto narrado à volta da fogueira. Caberá ao leitor aferir se a trama ficou mais forte ou fraca.

Como é o processo de adaptar um conto popular?
Mais do que o conhecimento das técnicas da narrativa, é fundamental, no meu entender, o conhecimento da realidade. É importante ter em conta, entre outros aspectos, o papel que os animais jogam na mundividência desta ou daquela formação social. Depois, e só depois, é que vem a estratégia narrativa. E nela, o grande desafio que se coloca ao texto : a verossimilhança.

As crianças brasileiras pouco conhecem da cultura moçambicana. Na sua opinião, por que isso acontece?
Desconhecimento é mútuo. E o pouco que se sabe do outro está muito na esfera do epidérmico, do superficial. Falta-nos um maior intercâmbio cultural. É importante que as pontes que se estabelecem façam circular a cultura.

Como fazer a literatura infantojuvenil de Moçambique ficar mais conhecida no Brasil?
Eu tenho a ideia de que a literatura, no caso infantojuvenil, deve circular em dois níveis: nível público, como estratégia dos governos de fazer chegar o seu patrimônio por via dos acervos bibliotecários e outras formas que as instituições púbicas brasileiras e moçambicanas acharem mais convenientes à disseminação. O segundo nível está nas editoras e na estratégia que elas adotam. O caso da editora Kapulana é um exemplo. E, na conjugação dessas estratégias, teremos as escolas mais apetrechadas e os currículos mais apetecíveis.

Como você avalia o cenário literário atual de Moçambique, principalmente após o reconhecimento de Mia Couto e José Craveirinha, por exemplo?

Divulgação

É sempre positivo, porque torna-nos alvo de maior conhecimento. A consagração de um autor é sempre uma porta que se abre. A literatura moçambicana é hoje matéria de teses em muitas universidades brasileiras. E não me refiro só ao eixo Rio-São Paulo, mas falo de universidades de Estados do Pará ao Rio Grande do Sul. As universidades brasileiras estão na dianteira. O mesmo se passa com as nossas universidades em relação a literatura brasileira.

'O REI MOCHO'
AUTOR Ungulani Ba Ka Khosa
EDITORA Kapulana
PREÇO R$ 29,90
INDICAÇÃO a partir de 8 anos


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