Folha de S. Paulo


Estudo sugere que games podem melhorar habilidades de raciocínio

MICHAEL KOOREN/REUTERS
Pesquisa da Universidade de Colúmbia, nos EUA, observou o comportamento de mais de 3 mil crianças europeias
Pesquisa da Universidade de Colúmbia, nos EUA, observou o comportamento de mais de 3 mil crianças

Um estudo da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que o uso frequente de videogames pode melhorar habilidades intelectuais e até mesmo sociais das crianças.

Os participantes tinham entre 6 e 11 anos e vieram de seis países da União Europeia. Dentre as 3.195 crianças, as 20% que jogavam videogame por mais de 5 horas na semana mostraram quase duas vezes mais probabilidade de ter maior função intelectual e competência escolar que as demais.

Por outro lado, elas não apresentaram sinais de problemas mentais relacionados ao uso dos games. A avaliação psicológica foi feita por pais, professores e pelas próprias crianças, que responderam a questionários padronizados.

CONTROVÉRSIAS

"É preciso ter muito cuidado com essas pesquisas, porque no geral elas são muito parciais, e querem estimular o uso dos eletrônicos", aponta o professor Valdemar Setzar, do Instituto de Matemática e Estatística da USP.

O pesquisador, que estuda os danos de videogames e de outros aparatos tecnológicos ao desenvolvimento das crianças, afirma que os jogos prejudicam a imaginação e a criatividade –algo que dificilmente é medido numa pesquisa como essa. Na visão dele, o mesmo acontece com tablets, smartphones e televisão.

"O computador é uma máquina matemática, tudo vai exigir um pensamento lógico, engessado", diz.

Para a professora Luciana Rufo, do Núcleo de Pesquisa em Psicologia em Informática (NPPI) da PUC, a interatividade dos jogos pode, sim, trazer benefícios ao cérebro.

"No videogame, você precisa desenvolver algumas habilidades, gravar caminhos, ter desenvoltura manual e até aprender inglês em alguns jogos", diz. "É um outro tipo de exercício para o cérebro."

INTERAÇÃO SOCIAL

Outro ponto levantado pelo estudo é que os videogames teriam, possivelmente, uma pequena relação com a maior capacidade de convívio social observada nos jovens jogadores.

"Socialmente falando, para essa geração, os games são muito importantes, e também se tornaram uma forma de criar laços com os outros", afirma Luciana.

Ela cita como exemplo os jogos online, onde o participante tem contato com companheiros virtuais. "O jogador não é mais solitário como antes. A maioria dos jogos de hoje envolvem alguma interação social."

Os especialistas ressaltam, contudo, que as crianças também precisam aproveitar outros espaços, fora do ambiente tecnológico. A diversão deve ser de forma moderada e em horas livres –e sempre supervisionada pelos pais.

A Associação Americana de Pediatria, por exemplo, recomenda que crianças com mais de 10 anos não joguem mais do que duas horas de videogame por dia. "O problema não é o uso, mas o excesso", afirma Luciana. "Se usados apenas como diversão nas horas vagas, os games podem trazer benefícios."


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