Folha de S. Paulo


Crianças falam sobre a dificuldade de achar bonecos parecidos com elas

Você já entrou em uma loja de brinquedos e tentou achar algum boneco parecido com você?

Para Cecília de Moura, 9, que tem os olhos castanhos e a pele negra, a boneca mais parecida com ela é uma branca com olhos azuis. "Eu não tenho bonecas negras, mas essa é 'inchadinha' como eu", diz.

Julia Silva da Cruz, 11, enfrenta um problema parecido. "Devo ter 12 Barbies, e só uma tem a pele morena."

Isso se repete em qualquer loja, principalmente com bonecas: quase todas são magras, brancas e loiras, sem muito espaço para o diferente.

Mas, aos poucos, esse padrão começou a mudar. A famosa Barbie vai ganhar neste ano três modelos: baixa, alta e com curvas.

Mas qual a importância disso? "A criança sente que está de fora por não corresponder ao padrão de beleza da boneca", diz a psicóloga Ana Cássia Maturano.

"Já teve um dia em que quis ser branca e loira", concorda Julia. Para Helena Bastos, 8, ter um brinquedo parecido com ela faz diferença na hora de brincar. "Não preciso fingir que a boneca é outra garota, sou eu mesma."

NAS PRATELEIRAS

Os bonecos nas prateleiras de brinquedos devem ficar mais diversificados nos próximos meses. Em março, chegará às lojas uma nova linha da Barbie com quatro tipos de corpo e sete tons de pele, e em novembro a Lego promete lançar um boneco cadeirante.

"Acho muito legal ter outros tipos de Barbie, porque existem pessoas diferentes no mundo", opina Beatriz Machado, 7.

No mês passado, o garoto Matias Melquiades, 4, ficou famoso na internet por causa de uma foto em que aparecia com o seu boneco preferido, o Finn (do personagem negro do novo "Star Wars").

A imagem teve 30 mil curtidas no Instagram e foi compartilhada até pelo ator John Boyega, que interpreta o papel.

"A foto gerou uma discussão sobre representatividade", diz Jaciana, 32, a mãe de Matias. Ou seja, sobre como as pessoas podem se achar parecidas com brinquedos ou personagens e se reconhecer neles.

Educadora, ela criou com o marido uma marca de bonecos de pano artesanais chamada Era Uma Vez o Mundo. É ela mesma quem faz as bonecas, que são inspiradas na aparência do cliente ou em mulheres negras importantes.

Jaciana não está sozinha. Em São Paulo, a marca Preta Pretinha faz bonecas de pano negras, asiáticas, ruivas e até cadeirantes ou com síndrome de Down, por exemplo.

"É bonito de ver como as crianças procuram bonecos parecidos com elas ou com os amigos para fazer uma homenagem", conta Antonia Joyce Venancio, uma das donas da loja.

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DIVERSIFICANDO-SE
Como a Barbie mudou ao longo dos anos

1959
A Barbie foi criada daquele jeito que você conhece: branca, loira e com olhos azuis.

1963
Nasceu a primeira amiga da Barbie com cabelo ruivo, a Midge, que tinha sardinhas no rosto.

Divulgação
Primeira Barbie negra da historia, lancada em 1980) Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Primeira Barbie negra

1980
Foi criada a primeira Barbie negra. Mas anos antes disso, em 1968, a boneca ganhou uma amiga negra chamada Christie.

Divulgação
Primeira Barbie Oriental. Credito: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM**
Primeira Barbie oriental

1981
Surgiu a primeira Barbie asiática.

1996
Pela primeira vez, a famosa boneca ganhou uma amiga cadeirante, a Becky.

2015
Foi lançada a linha Fashionista, com novos tons de pele, olhos e estilos de cabelo.

2016
A fabricante Mattel anuncia que vai lançar diferentes tipos de corpo para a Barbie.


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