Folha de S. Paulo


Leia entrevista com a autora do livro 'Conte uma História, Estela'

Uma garotinha ruiva passeia com seu irmão mais novo por jardins que parecem uma miragem no livro "Conte uma História, Estela" (Brinque-Book), da autora e ilustradora canadense Marie-Louise Gay.

Nesse universo delicado, povoado por bichos fofos e simpáticos, as duas crianças deixam a imaginação solta para se divertir com o que têm à frente: galhos, lagoa, nuvens e por aí vai. A sensação é de acompanhar um dia agradável e poético dos dois irmãos, que além deste título protagonizaram uma série de livros (vários deles publicados no Brasil pela mesma editora).

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FOLHINHA -

De Montreal, no Canadá, Marie-Louise conta como se inspirou para criar os personagens e revela um ponto em comum com Estela: o gosto que desenvolveu, desde criança, pela leitura. "Os livros eram meus melhores amigos, minha janela para o mundo", diz.

Confira entrevista abaixo.

Folhinha - Como Estela e Marcos apareceram em sua mente pela primeira vez?
Marie-Louise Gay - Há 15 anos, nossa família se mudou para o sul da França para viver em uma pequena vila nas montanhas. Eu fui confrontada todos os dias por novas imagens e pensamentos: paisagens, luzes, cheiros, culturas, tradições. Foi muito estimulante e inspirador. Foi como se eu redescobrisse o jeito de uma criança olhar para o mundo. Aquela visão me inspirou a escrever sobre duas crianças, Estela e Marcos, descobrindo o mundo ao seu redor.

Ambos são curiosos e criativos. Você tinha alguém em mente quando criou esses personagens?
Eu acho que eu tinha toda criança em mente... Crianças nascem com uma curiosidade natural e uma capacidade de se deslumbrar. Como adultos, nós devemos estimular nossas crianças com conversas, músicas e livros.

Estela lê o tempo todo no livro "Conte uma História, Estela". Por que você incluiu essa característica na personagem?
Por que eu fui uma criança que lia o tempo todo. Como meus pais mudaram de casa várias vezes com a família, eu nunca tive a chance de desenvolver amizades. Percebi que os livros eram meus melhores amigos, minha janela para o mundo.

Para você, o que é mais prazeroso no hábito de ler?
É poder habitar e entender outros mundos e diferentes pontos de vista. Ser capaz de identificar o personagem de uma história, de reconhecer que as emoções do personagem são similares às emoções do leitor.

Em "Conte uma História, Estela", Estela e Marcos brincam de algo quase universal: identificar formas em nuvens. Você já brincou disso antes?
Claro, eu fiz isso quando era criança, mas eu continuo fazendo isso ainda hoje como adulta. Eu acho que todas as crianças têm seu momento de surpresa ao ver uma forma em uma nuvem e ficam animadas de ver o formato se dissipar com o vento. É um momento criativo, é quase como se criassem o seu próprio filme animado.

Qual foi a forma mais estranha que você já encontrou?
Eu acho que o formato mais estranho foi um elefante usando um chapéu.

Quando você se deu conta de que desenhar era a sua praia?
Quando eu tinha 16 anos. Antes disso eu não desenhava nada. Eu não era uma aluna excelente no colégio e compensava isso desenhando nos meus livros de escola ou em qualquer pedaço de papel. Eu fazia desenhos (porcos que podiam voar, gatos surfando no oceano, elefantes andando de patins) ou caricaturas. Quanto mais eu desenhava, mais eu sentia que estava expressando minhas ideias e minha imaginação. Percebi que estava contando minhas histórias por meio dos meus desenhos.

Quando você está fazendo um livro, o que vem primeiro: o desenho ou a escrita?
Eles chegam juntos. Na medida em que minha história avança, eu rascunho personagens e detalhes nas margens do meu manuscrito. Às vezes meus desenhos influenciam a escrita e outras vezes as palavras influenciam os desenhos.

Você imagina como crianças de diferentes lugares vão receber suas histórias?
Às vezes, sim. Por exemplo: como minhas palavras e histórias foram traduzidas? O tradutor entendeu o que eu estava tentando transmitir? Como crianças vão ler "Estela, Rainha da Neve" em um país onde nunca neva, por exemplo... Mas, em geral, não penso tanto nisso. Eu só escrevo e ilustro histórias que me estimulam, que me oferecem desafios visuais e que, espero, possam cativar as crianças.

Quais são os seus novos projetos em literatura ou ilustração?
Meu livro mais recente é "Any Questions?" ("Alguma Pergunta?", em tradução livre), uma tentativa de explicar o processo criativo para crianças de forma divertida. Ele inclui uma história-dentro-da-história e participações especiais de alguns dos meus personagens favoritos. Também estou trabalhando em um livro de contos para crianças pequenas.


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