Folha de S. Paulo


Palmeirense? Saiba por que não deixar o Verdão nessa hora de sofrimento

Na época em que eu era um molecote, vamos dizer assim, uns 5.000 anos atrás, a gente chamava corintiano de sofredor. É verdade, juro. Pode perguntar para qualquer palmeirense nascido antes da descoberta da lâmpada elétrica.

Ah, esqueci de avisar, sou péssimo com datas. Mas se tem uma coisa que recordo com a precisão de uma calculadora sem pilha é que, na época do faraó Tutancamom, a gente chamava corintiano de sofredor. Foi nos anos 1970. Opa, algum neurônio deve ter ressuscitado e eu de repente fiquei bom de datas.

Caco Galhardo
Palmeiras

A vida é cheia de surpresas, amiguinho, quase que nem o futebol. Veja só, eu era ruim e fiquei bom, melhor aproveitar antes que fique ruim de novo! Pois nos anos 1970 só dava Verdão, o time era chamado de Academia, porque dava aula em campo. Não tinha pra ninguém. O Corinthians, coitadinho, estava na fila havia uns 200 anos. O Santos se vangloriava de um tal de Pelé. Do São Paulo, eu nunca nem tinha ouvido falar.

Aí chegou 1977, e o Corinthians saiu da fila, com um tal de Basílio. Eu tinha dez anos e ali, na frente da TV, sequei o Corinthians até não poder mais, mas não teve jeito. Quando o jogo acabou, era só a corintianada chorando que nem criança que perdeu a mãe na praia.

Daí pra frente, fora um lampejo ou outro, o que aconteceu com o Palmeiras foi o contrário do que aconteceu com a minha cabeça: estava bom e de repente ficou ruim, péssimo! Devem ter sido milhões de neurônios da cartolagem alviverde que morreram.

Mas, amiguinho, a vida é assim, cheia de surpresas, quase que nem o futebol. O que fazer? Tem de esperar ficar bom de novo, de preferência rezando de pé junto. Porque, se tem uma lei na vida que deve ser respeitada, é que não se muda de time, em hipótese alguma, principalmente se o time estiver perdendo.

O Palmeiras está fazendo cem anos e olha, tá difícil comemorar. Tá igual aquele ano em que você pede i-Pad de aniversário e ganha um forte-apache. Não há de ser nada, vamos de forte-apache. E viva o Palmeiras, que agora, meu amiguinho, é a nossa hora de sofrer. Um dia seremos felizes de novo, com o Palmeiras de volta ao topo. E aí, meu amiguinho, quando esse dia chegar, vamos chorar igual mãe que encontra o filho perdido na praia. Vai, Parmera!


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