Folha de S. Paulo


Diretor brasileiro de 'Rio 2' fala sobre seu novo filme e dá dicas para crianças

Depois do sucesso de "Rio 2", o diretor brasileiro Carlos Saldanha já tem seu próximo projeto: um longa metragem adaptado do livro "Ferdinando, o Touro", do escritor americano Munro Leaf, que já foi transformado em curta-metragem por Walt Disney em 1938.

Em entrevista à "Folhinha", no Rio, por causa do lançamento de "Rio 2" em DVD e Blu-Ray, Saldanha falou sobre o novo projeto e deu dicas de como crianças podem começar a fazer suas primeiras animações.

E já adiantou que ainda não há previsão para uma nova sequência das aventuras da ararinha Blu. Mas, caso aconteça, deve demorar ainda três ou quatro anos.

Leia abaixo a entrevista completa.

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Folhinha - Depois do sucesso do primeiro e do segundo filme do "Rio", você tem planos para lançar o "Rio 3"?
Carlos Saldanha - Com o sucesso do filme, sempre há o questionamento se vamos fazer ou não. A gente está começando a bolar uma ideias, mas não temos nada decidido. Ainda estamos pensando no que fazer. De qualquer maneira, mesmo que saia um, vai demorar um pouco ainda, porque tem que fazer o roteiro. Então, no mínimo uns três quatro anos até o próximo.

Nos filmes "Rio", foram mostrados o Rio de Janeiro e a floresta Amazônica. Tem alguma outra cidade ou região do país com a qual você gostaria de trabalhar num possível próximo filme?
Ainda não pensei nisso. Se a gente fizer uma sequencia, a grande pergunta é aonde nós vamos levar esses personagens. Queremos ter a temática brasileira, mas ainda não pensamos nisso.

Existe a possibilidade de lançar um spin-off (filme baseado em personagens secundários) com "Rio", como fizeram com os pinguins de "Madagascar" e com os Minions de "Meu Malvado Favorito"?
É meio diferente com "Rio". No "Meu Malvado Favorito", os Minions são quase como o Scrat de "Era do Gelo". É um personagem que vem com a parte da comédia, mas não é a parte principal da história. Então é mais fácil fazer um filme deles ou dos pinguins de "Madagascar". Do "Rio", a gente não pensou, porque os personagens são interligados. Mas, se eu tivesse que fazer alguma coisa, adoraria fazer com o Nigel ou com a sapinha Gaby.

Além da computação gráfica, tem alguma outra técnica de animação com a qual você gostaria de trabalhar?
Eu gosto de assistir a filmes em stop-motion, feitos à lápis. Mas, para trabalhar, eu prefiro computação gráfica. Foi assim que eu aprendi, foi assim que eu animei e eu tenho muita conexão com essa técnica.

Gabriel Bouys/France Presse
O diretor brasileiro Carlos Saldanha
O diretor brasileiro Carlos Saldanha

Você acha que a animação tradicional ainda tem futuro frente à computação gráfica?
A animação 2D sempre vai existir. É uma técnica que, no momento, não tem feito tanto sucesso comercialmente quanto o 3D. Mas pensando na história, na qualidade, na execução, é uma técnica que não deixa nada a desejar. Acho que dificilmente vai acabar.

Como vê o mercado de animação brasileira hoje? Acha que existe potencial para surgir uma indústria de animação aqui?
Acho que tem. Temos filmes muito bons, com qualidade de história e execução excelentes, mas não sei se pode ser considerado ainda uma indústria, porque não temos uma continuidade. Para termos um setor de animação mais forte, a ideia seria fazer com que acontecessem lançamentos com mais frequência.

Já ouvi falar que há outros filmes em produção e, ao longo do tempo, isso vai ampliando o mercado. Isso é o que vai alavancar o filme de animação, fazer com que tenha sucesso de público, investimentos e possibilite montar equipes fixas para produzir mais filmes. É uma indústria promissora, mas não é uma indústria fácil.

Como e quando você começou a se interessar por animação?
Foi uma coisa meio gradual. Eu fazia computação e queria trabalhar com arte. No início, eu via a animação mais como um elemento para criar efeito especial, fazer comercial de televisão. Foi aí que eu comecei a gostar de animação. E, quando eu comecei a fazer isso, lá por 1989 e 1990, não tinha filme de animação 3D, e era com isso que eu queria trabalhar. Comecei a trabalhar com animação quando fui para os Estados Unidos. Quando lançaram o "Toy Story" (Pixar), em 1995, aí que começou o interesse geral por computação gráfica na animação.

Qual a dica para as crianças que se interessam por animação e têm vontade de fazer seus próprios desenhos animados?
Hoje em dia, você consegue fazer um filminho até com um smartphone. Não precisa ter técnicas sofisticadas ou computadores de última geração. Com papel e lápis, é possível fazer um flipbook e desenho no caderno ou então tentar fazer um stop motion com massinha. Se quiser tentar mexer com a parte gráfica, os computadores estão cada vez mais poderosos e mais acessíveis. Vale a pena tentar e brincar. E é uma coisa fácil, vale como uma brincadeira.

O legal é que eu vejo muitas crianças em festivais como o Animamundi e, nos workshops, elas veem como é simples fazer uma animação. Quanto mais cedo você começar a se interessar e aprender, melhor você fica, porque é tudo prática. Acho que a tendência é que o público comece a se interessar cada vez mais cedo pela técnica.

Um dos seus próximos projetos em animação é uma adaptação do livro "Ferdinando, o Touro", que já foi transformado em curta-metragem em 1938 pelo Walt Disney. O que essa nova versão terá de diferente da primeira?
O livro foi escrito na década de 1930, mas ainda faz muito sucesso nos Estados Unidos. Manteve-se um clássico, e todas as crianças já leram esse livro. É uma história muito simples, do touro que é diferente dos outros e que quer ser aceito. Quando foi feito o curta, na época, era muito simples, porque o livro era muito simples. A gente quer manter a simplicidade, mas ampliar a história para conhecer um pouco mais do Ferdinando. O filme vai se passar na Espanha, e vamos pegar bem esses espírito do touro, da tradição das touradas, mas, ao mesmo tempo, a partir da perspectiva do touro. Ainda estamos no início, na fase do roteiro e design de personagens.

Seus filhos pedem para você adaptar algum livro ou história preferida para o cinema?
Os mais velhos sugerem que eu contrate atores e atrizes que eles gostariam de conhecer. Já os mais novos leem alguns livros comigo, perguntam se vai ter "Rio 3" e sobre o Ferdinando.


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