Folha de S. Paulo


Diretor de 'O Filho da Noiva' fala à 'Folhinha' sobre sua animação infantil

Leia entrevista com o cineasta argentino Juan José Campanella, ganhador do Oscar ("O Segredo dos Seus Olhos"), que lança a animação "Um Time Show de Bola".

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Marcelo Sayão/Efe
O diretor argentino Juan José Campanella
O diretor argentino Juan José Campanella

Folhinha - Quando pequeno, jogava pebolim?
Campanella - Eu era bem ruim. Preferia jogos de tabuleiro e o cinema. Jogava bastante um jogo parecido com o Monopoly, que acho que nunca consegui terminar.

Mas e o futebol no campo? Era um Maradona?
Não, era bem ruim. Por sorte, nessa época, também tinha um cinema no meu bairro. Jogava futebol com meus amigos todas as manhãs, e à tarde ia ver filmes.

"Um Time Show de Bola" é uma mudança de rumo no seu trabalho?
Sempre quis fazer alguma coisa para criança, pois me interessa testar vários estilos no cinema. Mas o filme traz também várias referências para os adultos que gostaram de "O Filho da Noiva" ou "O Segredo dos Seus Olhos".

Fazer uma animação é um processo muito diferente do cinema tradicional, com atores?
Foi muito mais difícil fazer a animação. Na parte de criação, o processo é completamente o contrário. Primeiro você faz toda a montagem, para depois fazer o filme. É como se, antes de escrever um livro, te dissessem que o primeiro capítulo precisa ter oito páginas, o segundo doze, com vinte parágrafos cada um. A lógica é completamente ao contrário.

E tem também o tempo da animação, que é maior por causa da tecnologia. "Um Time Show de Bola" demorou três anos para ficar pronto. Isso sem contar os mais de dois anos de desenvolvimento do filme. Já uma produção com atores costuma demorar seis meses.

Esse filme é uma prova de que é possível fazer animação fora dos EUA?
Sim, mostramos que a América Latina também pode fazer animações de alta qualidade. Queremos construir um foco de criação de filmes por aqui.

A produção acaba ficando mais barata porque a vida na América Latina é mais barata neste momento. Mas a ideia é não depender somente do preço menor de produção. Pode ser que aconteça uma mudança na economia nos próximos anos e que fazer filmes por aqui não seja mais tão barato. Mas queremos continuar produzindo e atraindo o mercado de cinema, porque conseguimos fazer coisas de qualidade.

"Um Time Show de Bola" pode representar para a Argentina o mesmo que "O Senhor dos Anéis" representou para a Nova Zelândia?
"O Senhor dos Anéis" é um filme americano, com dinheiro dos Estados Unidos. O filme foi gravado na Nova Zelândia, mas o formato e a propriedade intelectual seguem sendo americanas.

Minha intenção, na Argentina, é produzir filmes e animações locais. Fazer com que a América Latina seja também um foco de criação, não apenas de produção.


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