Folha de S. Paulo


Ruth Rocha falou sobre trens na 'Folhinha', em 1984; leia o poema

Leia abaixo poema da escritora Ruth Rocha.

Texto foi publicado em 7 de outubro de 1984, na "Folhinha".

*

O TRENZINHO DO NICOLAU

Lá vai Nicolau com seu trenzinho...
Sobe montanha.
Atravessa rio,
Desce ladeira,
Cruza desvio.
Piuiii...Piuiiii...
Adeus, menino que joga bola...
Adeus, mulheres que lavam roupa...
Adeus, vaquinha que come grama...
Adeus...
Adeus...
Lá vai Nicolau com seu trenzinho.

Todo dia.
Todo dia.
Todo dia.

Mas o tempo foi passando...
E o trenzinho do Nicolau,
Devagarinho,
Envelhecendo...

O Nicolau também cansou.
Por isso um dia se aposentou.
Pra sua casinha junto à estação
Nicolau voltou.
Plantava flores, rosas, violetas...
Mas tão sozinho ele ficou!
Não tinha amigos, não tinha ninguém!

Lá no desvio ficou o trenzinho.
Enferrujando, devagarinho...
Trenzinho valente,
Que levava tanta gente!
Carregava em seus vagões
Laranjas, bananas, limões...

Até que um dia o Nicolau
Foi espiar a velha estação.
Ai, que tristeza no coração!

O velho trenzinho, seu companheiro, ia ser vendido pro ferro velho.

E Nicolau se resolveu:
Comprou o trenzinho
E nunca mais ficou sozinho.
A criançada vive brincando no seu quintal.
O dia inteiro se ouve dizer:
- Posso brincar no seu trenzinho, seu Nicolau?

Nicolau acende a caldeira.
E apita: Piuiiii...
E na caldeira, meio amassada, ele faz pipoca pra criançada.


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