Folha de S. Paulo


'Sempre fui meio moleque', diz Marília Gabriela sobre a infância; leia entrevista

Antes de estrelar programas como "De Frente com Gabi", a jornalista Marília Gabriela era apresentadora do "TV Mulher", exibido na Globo na década de 1980.

Na época, ele conversou com a "Folhinha" sobre sua infância e sobre o início da carreira no jornalismo.

"Eu sempre fui meio moleque, meio menino. Gostava mais das brincadeiras de menino", contou.

Leia abaixo entrevista publicada na edição da "Folhinha" de 17 de maio de 1981.

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SEM MEDO DE TABUS

Marília Gabriela, ídolo da TV brasileira, conta para os leitores da FOLHINHA alguma coisa de sua infância, dos seus dias de garota e de sua filosofia de vida.

Ele deu entrevista à Titina, interrompendo-se a toda hora com sorrisos e risadas, comprovando sua grande simpatia.

"Eu sempre fui meio moleque, meio menino. Gostava mais das brincadeiras de menino do meu tempo. Mas não podia sair de casa para brincar na rua. Fui criada muito presa. Vivia em Campinas e passava a maior parte do tempo lendo", diz ela, mas sem mostrar ter ficado marcada por isso.

Ela presta atenção na vida de seus filhos hoje.

"Acho que o pessoal de hoje é muito mais arejado, sabe mais das coisas. Tem maior informação. Quando eu era criança, era proibido falar de coisas como nascimento, sexo, política. Hoje, meu filho de 9 anos viaja sozinho e é muito independente. Além disso, a meninada agora é mais divertida, mais inteligente e até mais tranquila do que antes."

Titina perguntou à Marília se o trabalho na TV Mulher decorre mais da própria vontade ou do movimento das mulheres que querem avançar. Ela respondeu:

"Modestamente, das duas coisas. Estamos na época da mulher. As mulheres estavam precisando desse empurrão de que você falou. Na rua, as mulheres que param para falar comigo não agem como diante de uma estrela, mas elas se identificam comigo, que sou mulher, mãe, dona de casa, que trabalha como elas. Este é óbvio: somos iguais, temos coisas em comum."

Falando sobre sua profissão, Marília conta sua estreia no jornalismo.

"Foi um choque: quando eu entrei na Globo, eram 95 homens e eu. Eles até me olhavam feio. Imagine que eles até acharam que eu era 'olheira' da diretoria. Eu ganhava menos, e, além disso, era complicadíssimo trabalhar. Quando eu ia entrevistar um jogador de futebol, por exemplo, tinha gente que pedia para eu sair, porque estava atrapalhando o treino..."

O que você diria para as pessoas que estão lendo essa entrevista?

"O seguinte: elas devem fazer exatamente tudo o que quiserem, nem que seja para levar um grande zero. Devem ousar tudo o que têm direito. Pois o fundamental é a experiência de vida. Lutar contra as experiências e vontades dos outros, mantendo o pé no chão. Não tenho medo de dizer que sou feliz e que conquistei essa felicidade enfrentando tabus: fui lá, vi como é que era e aprendi. Não se pode deixar passar nada, ainda que a gente tenha que brigar com o mundo. Mas, com humildade para saber aprender, a gente fica feliz."

Matuiti Mayezo/Folhapress
A jornalista Marília Gabriela fala ao telefone em foto de 1982
A jornalista Marília Gabriela fala ao telefone em foto de 1982

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