Folha de S. Paulo


Marcelo Coelho explica as manifestações para crianças

Tomar banho é chato, mas você tem de tomar. Ir para a escola muitas vezes não dá vontade, mas você tem de ir. Comer chocolate é ótimo, mas nem sempre pode. Injeção é péssimo, mas precisa.

Imagine que seus pais são daqueles que ficam dizendo "não" o tempo inteiro. Em geral eles têm razão. Mas uma hora enche.

Você não aguenta tantas regras e proibições e aí explode. Faz escândalo. Joga brinquedos no chão, quebra alguma coisa da sala.

Seu pai ou sua mãe ficam furiosos também, e você leva um tremendo tapa na orelha.

Agora, eles é que estão errados.

As manifestações são meio parecidas com isso. O prefeito aumentou as passagens de R$ 3 para R$ 3,20. Não é muito, mas é chato. E uma hora precisava fazer.

Só que muita gente se cansou de tanta coisa chata.

Imposto é chato, mas precisa ter. O horário eleitoral na TV é chato, mas ninguém vai acabar com ele. O trânsito é chatíssimo, mas todo mundo precisa sair de casa.

No começo, só os mais revoltados resolveram protestar. E muitos protestaram do jeito errado: quebrando coisas na cidade. Vidros de loja, estações do metrô.

A polícia reagiu do jeito errado também: batendo e atirando balas de borracha.

Um fotógrafo vai provavelmente ficar cego de um olho porque levou uma bala dessas.

O prefeito é quem cuida das tarifas, o governador é quem cuida da polícia. As manifestações cresceram porque, uma hora, todo mundo perde a paciência.

Esses políticos são chatíssimos, mesmo quando têm razão. Quando batem, eles é que precisam de uma lição.

Marcelo Justo/Folhapress
Vera, 10, em manifestação na avenida Paulista, com cartaz feito pela irmã
Vera, 10, em manifestação na avenida Paulista, com cartaz feito pela irmã

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