Folha de S. Paulo


Crianças acompanham pais em protestos sem entender bem o que está acontecendo

Entre rostos pintados, cartazes e gritos que fecharam a avenida Paulista na última terça-feira em mais um protesto em São Paulo, Vitória Camargo, 7, segurava um papelão onde se podia ler: "É o meu futuro!".

"Minha mãe já tentou me explicar um milhão de vezes, mas ainda não entendi por que estão protestando", conta a menina, que acompanhou a manifestação com a família.

Se os adultos sentem dificuldades para entender os protestos dos últimos dias em diversas cidades do Brasil, as crianças ficam ainda mais confusas.

Organizadas pela internet, as manifestações começaram reclamando do aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trens. Mas logo os manifestantes também levaram cartazes contra a corrupção, os gastos com estádios para a Copa do Mundo e outros temas.

Na segunda, 100 mil pessoas se reuniram no Rio e ao menos 65 mil fecharam as principais avenidas de São Paulo. Após 13 dias de protestos, as duas capitais baixaram o preço das passagens. Outras cidades já tinham feito o mesmo.

Marcelo Justo/Folhapress
Vera, 10, em manifestação na avenida Paulista, com cartaz feito pela irmã
Vera, 10, em manifestação na avenida Paulista, com cartaz feito pela irmã

CADÊ A POLÍCIA?

"Estou aqui para lutar pelos direitos do povo", diz Ana Luiza Ribeiro, 10, que foi à praça da Sé, em São Paulo, com os pais e a irmã.
Perto dali, Ramon Nolasco, 8, não sabia por que tanta gente estava reunida. "Queria ver a polícia. Sabe onde está?", perguntou enquanto segurava o pai com uma mão e um leão de brinquedo com a outra.

Diferentemente de protestos anteriores, quando a Polícia Militar entrou em conflito com manifestantes, os policiais apenas observavam a concentração.

"Vou contar na escola que as pessoas querem passagens mais baratas. Mas acho que logo vão começar a brigar", comentou Júlia Brandão, 7, que estava com a mãe na praça.

Pouco depois, o movimento se dividiu. Parte das pessoas se dirigiu à avenida Paulista, onde continuou a se manifestar pacificamente. Outra parcela foi em direção à Prefeitura de São Paulo. Na região, houve cenas de vandalismo e saques a lojas. Ali houve confronto com a PM.

"Na semana passada, as pessoas quebraram tudo na minha rua e colocaram fogo no lixo. Ficou tudo bagunçado", conta Rodolfo Levandoski, 7, que mora perto da praça da Sé e acompanhava o protesto com os tios. "Fiquei com medo de vir hoje."

Ao saber que iria à manifestação, Júlia também sentiu medo. "Fiquei com um monte de perguntas na cabeça. Será que a polícia vai pegar a gente? As pessoas vão quebrar as coisas?", disse, segurando um cartaz feito pela mãe em que estava escrito: "Chique não é pobre andar de carro. É rico andar de ônibus".

Já Ana Luiza não pensou duas vezes antes de ir à manifestação. Mas, ao ouvir a multidão gritando "Ei, Haddad [prefeito de São Paulo], vai tomar no...", disse: "Poderiam falar uma palavra mais bonita, né?".

Marcelo Justo/Folhapress
Ramon com o pai em manifestação que reuniu 50 mil pessoas na Praça da Sé
Ramon com o pai em manifestação que reuniu 50 mil pessoas na Praça da Sé

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