Folha de S. Paulo


Barrichello começou carreira no kart; leia texto da 'Folhinha' de 1998

Com o sonho de virar um grande piloto de Fórmula 1, muitas crianças começam logo cedo a se preparar para a velocidade. E a porta de entrada para eles geralmente é o kart.

A "Folhinha" deste sábado (8) vai trazer uma reportagem sobre meninos que participam de corridas de kart e sonham em se transformar em pilotos profissionais.

Mas essa não é a primeira vez que o caderno fala sobre isso. Na edição de 28 de março de 1998, a "Folhinha" entrevistou as crianças que mais se destacavam no kart, entre eles Nelsinho Piquet, na época com 12 anos.

Além do garoto, Rubens Barrichello, Ricardo Zonta e outros pilotos brasileiros que começaram no kart também conversaram com o jornal.

Leia a íntegra do texto de 1998 abaixo.

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O Brasil tem quase tudo para ter muitos Sennas no futuro. Além de mais campeonatos e bons kartódromos, novos pilotos estão se destacando nas competições de kart e sonham em entrar para a F-1.

Ney Alves Coutinho Júnior, 9, é um desses pilotos. Sábado passado, ele venceu a 2ª etapa do Campeonato Paulista de Kart, realizada no kartódromo Granja Viana, em São Paulo.

Em uma disputa emocionante, ele ultrapassou, na última volta, o piloto que estava liderando a prova. Com isso, ele se manteve líder desse campeonato, na categoria Cadete, com 28 pontos.

Fabiano Accorsi - 28.mar.1998/Folhapress
Nelson Ângelo Piquet, filho do ex-piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet
Nelsinho Piquet, aos 12 anos de idade

TÁTICA PARA VENCER

Ney disse que sempre prefere ultrapassar na última volta, para não dar mais chance aos adversários. Ele falou que o piloto que sai na frente fica o tempo todo preocupado com o que vem atrás e não corre bem.

"Durante a corrida, eu percebi que o piloto da frente abriu muito para tangenciar a curva do mergulho e quando percebeu que eu já estava ao seu lado, mas bateu no meu carro e rodou", conta. Ele ainda diz que torce para o Schumacher porque ele tem vontade de vencer. "Ele é como eu", afirma.

O SONHO DE CHEGAR LÁ
O maior sonho dos pilotos de kart é um dia disputar as provas de Fórmula 1.

Ney conta que, aos cinco anos, quando pediu ao pai seu primeiro kart, já era fã de Ayrton Senna. "Eu queria ser igual a ele", afirma.

O ídolo de Rafael Monteiro, 10, líder do bandeirante, é André Ribeiro, piloto brasileiro que corre na Indy. Rafael quer passar por todas as categorias até chegar na Fórmula 1. "Se fosse para escolher, gostaria de correr pela Ferrari."

Nelson Ângelo Piquet, 12, filho do ex-piloto Nelson Piquet conta que gosta de Schumacher. "Ele tem 'braço' e um bom carro", diz.

'PAITROCÍNIO' DO PILOTO

Além de ser caro correr de kart, é difícil conseguir patrocinador. O pai de Ney disse que gasta cerca de R$ 8.000 por mês para deixar o filho correr.

Cada vez que o piloto compete, ele precisa de jogo de pneus e algumas peças novas para o carro. Um mecânico cobra cerca de R$ 2.000 mensais. A oficina que faz a preparação e a manutenção do motor do kart também cobra isso.

Ainda é preciso pagar a anuidade da federação (R$ 400) e taxa para disputar cada uma das corridas (cerca de R$ 300).

ANOS SEM VITÓRIAS

"Se tivéssemos um carro bom...". É assim que os brasileiros explicam por que não vencem na Fórmula 1.

Ayrton Senna, morto em 94, foi o último brasileiro a vencer um Grande Prêmio do Brasil e uma prova do campeonato, as duas em 93. O melhor resultado desde então foi um segundo lugar de Barrichello, em 97, em Mônaco.

Para Marcelo Batistuzzi, que será piloto de testes de F-1 em 98, "quem vai bem em equipes pequenas chama a atenção das grandes e pode pegar um carro bom."

KART É 'ESCOLINHA'

Quando estiverem acelerando seus carros, os pilotos brasileiros vão mostrar na pista muito do que aprenderam em um carro menor e bem menos veloz: o kart.

Rubens Barrichello, da equipe Stewartm Pedro Paulo Diniz, da Arrows, e Ricardo Rosset, da Tyrrell, dizem que o kart é base para ser um bom piloto.

Para Pedro Paulo, sua melhor vitória foi no kart. Ele saiu em primeiro lugar em uma corrida e ficou em último durante a prova por causa de uma batida. "Ultrapassei todo mundo até ganhar."

Ele diz que quem corre de kart aprende a mexer no motor do carro do carro e a perceber se ele vai correr bem.

"Eu desmontava o liquidificador de casa para treinar no kart", afirma.

Mas não dá para trocar a escola pelas pistas. O piloto de testes da McLaren, o brasileiro Ricardo Zonta, já ficou sem correr, de castigo, porque "derrapou" nas notas da escola.

Reprodução
O piloto Rubens Barrichello aos 10 anos, comemora uma vitória no kart
O piloto Rubens Barrichello aos 10 anos, comemora uma vitória no kart

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