Folha de S. Paulo


Como é ser mãe de filho único? Leia texto de Ana Estela de Sousa Pinto

"Mãe, por que você é tão chata?". Milha filha Sofia, de 16 anos, pergunta isso desde pequena.

Eu jogo a culpa no "anjo da chatice".

A história é esta: toda vez que uma criança nasce, vem um anjo e lhe injeta uma dose de chatice --porque, se dependesse só da mãe, ela tenderia a fazer as vontades dos filhos.

O azar de Sofia é que seus três irmãozinhos morreram quando eram bebês. Sobraram para ela quatro doses inteiras de chatice.

Sofia não vê graça nenhuma, mas acho a história boa para lembrar que:

1) ter só um filho nem sempre é escolha dos pais;

2) mesmo que seja, a opção não reduz nem o trabalho, nem a responsabilidade dos pais (e talvez nem mesmo os gastos);

3) no começo parece ótimo ter toda a atenção da mãe. Mas, quanto mais a criança quer ser dona do seu nariz, mais percebe a desvantagem de concentrar todo o foco da família.

Crescer provoca conflitos que, no caso dos filhos únicos, podem parecer maiores. Mas aí chegará a sua hora de chamar o "anjo da autonomia", que o ajudará a ser firme com seus pais na conquista de mais liberdade.

E, já que você é um só e terá que enfrentá-los sozinho, peça logo ao anjo que lhê dê uma dose dupla.

Filipe Rocha/Folhapress

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