Folha de S. Paulo


Babá de 12 anos reclama de apanhar das crianças; releia texto de 1965

Não é de hoje que os filhos ficam em casa sob os cuidados de babás e empregadas enquanto os pais trabalham fora. O assunto já aparecia com certa frequência nas primeiras edições da "Folhinha", lá na década de 60.

Geralmente, quem falava sobre a importância de tratar bem os funcionários do lar era a Augustinha, personagem criada pela tia Lenita (a primeira editora do caderno infantil) e desenhada por Mauricio de Sousa, que dava aulas de elegância e bom-tom aos leitores.

Na edição de 2 de maio de 1965, uma babá de apenas 12 anos escreveu para Augustinha reclamando que era maltratada pelas crianças de quem tomava conta e pedindo conselhos. A personagem, que nunca tolerou esse tipo de tratamento, foi dura na queda! Releia abaixo o texto na íntegra:

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Augustinha recebeu uma carta muito triste de uma babá que toma conta de duas crianças. Uma de três anos e a outra de quatro anos. Ela diz o seguinte:

"Querida Augustinha. Eu sou ainda uma menina, tenho só doze anos, mas preciso trabalhar para ajudar minha família. Na casa que eu estou, sinto-me feliz. Porém, quando minha patroa sai, as crianças que cuido resolvem bater-me, dar pontapés e beliscões. Você acha que isso é direito? Devo deixar o emprego?"

Aqui vai a resposta de Augustinha:

Essa história das crianças baterem em você quando a mãe não está é muito errada. Você tem toda razão de estar aborrecida e querer ir embora. Mas já que gosta da família e é feliz aí, faça outra coisa. Não esconda esse mau comportamento das crianças de sua patroa. Conte tudo para ela. Tenho certeza de que o chinelo vai funcionar... Se, porém, mesmo depois do castigo, as duas crianças continuarem a maltratá-la, então arranje outro emprego e deixe as duas malcriadas sozinhas. Um abraço da Augustinha.

Toda criança bem-educada e de bom coração deve tratar os empregados da casa com a maior delicadeza. Essa história de dar pontapés, tapas e beliscões nos mais velhos não tem desculpa. Ninguém gosta de ser maltratado, principalmente por criança.

Outra coisa muito mal feita é criança que não sabe reconhecer o trabalho dos outros. Muitas vezes, uma empregada está limpando e a criança está atrás sujando. Isso está certo?

E aquelas que encontram uma gaveta bem arrumadinha, com tudo no lugar, e para procurar qualquer coisinha jogam tudo no chão, fazem logo uma bagunça. Você costuma fazer assim? Ou tem juízo?

Toda a criança que gosta muito da mamãe procura auxiliá-la agradecendo os empregados, conservando o que está limpo, colaborando na arrumação da casa. Assim procedem os amiguinhos ajuizados de Augustinha.

2.mai.65/Reprodução
Bebê e Augustinha nas páginas da
Bebê e Augustinha nas páginas da "Folhinha" de 1965

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