Folha de S. Paulo


Opinião: Suárez foi à fogueira como uma Joana D'Arc do século 21

Ninguém no Uruguai tem dúvida de que Luis Suárez se equivocou, mas as pessoas tampouco têm dúvida de que essa sanção da Fifa é produto de uma perseguição sem fim iniciada pelos ingleses.

Suárez é o Maradona de 2014. Como Diego, em 1990, o uruguaio passou a ser o inimigo número um da Inglaterra, da mesma forma que Maradona havia se tornado o inimigo da Itália.

Ídolos irmanados no amor à camisa, na paixão pela bola, no entusiasmo quase amador que exibem ao vestir a camisa da seleção.

Agora foi a vez de Suárez. Castigado por nove partidas, suspenso por quatro meses, expulso da delegação e do Mundial.

Como se fosse um criminoso. E não é. É só um futebolista, com virtudes e defeitos, caráter forte, um temperamento aguerrido, nada mais.

A sanção caiu sobre o Uruguai como um balde de água fria, machucou forte, e é preciso perguntar por quê.

Será que os membros da Comissão Disciplinar da Fifa são os mesmos que premiaram Zinedine Zidane depois daquela inesquecível cabeçada no peito de Materazzi? Pois o francês foi o melhor da Copa e não recebeu outra sanção além do cartão vermelho.

O caso de Suárez teve tratamento especial pela mídia.

No Brasil, houve uma verdadeira "caça às bruxas". Programas inteiros dedicados ao incidente. Todos falaram. Suárez foi julgado; pediram sua cabeça. Mandaram-no para a fogueira, como uma Joana d'Arc do século 21.

No Uruguai, as redes sociais se movimentaram em apoio ao jogador, divulgando incidentes da Copa que não foram tratados da mesma maneira. E surgiram até apelos para que a seleção abandonasse a Copa.

Sepp Blatter, Eugenio Figueredo (presidente da Conmebol) e Julio Grondona (vice-presidente sênior da Fifa) tornaram-se inimigos públicos para os uruguaios. Os 3 milhões de uruguaios clamam por justiça, tratamento igualitário, por uma Fifa mais sensata e equitativa.

A sanção a Suárez comoveu todo o país e até obrigou o presidente José Mujica a se pronunciar sobre o tema.

Suárez, como Maradona, virou mais um mártir da Fifa. Uma Joana d'Arc do século 21.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

JOSÉ MASTRANDEA, 55, é jornalista do "El País" do Uruguai


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