Folha de S. Paulo


A camaronesa: "Camaroneses furiosos com a sua seleção"

Com a derrota por 4 a 0 contra a Croácia, Camarões foi a primeira seleção africana eliminada da Copa de 2014. Um fato que causou um choque emocional em todos os torcedores dos Leões Indomáveis, como é chamada a seleção nacional de futebol.

"É muito triste que um grande país no futebol como Camarões, tenha saído prematuramente da competição. Esta seleção tem muitos problemas. Enquanto os jogadores das outras seleções se preocupam com a honra de seus países, os nossos só pensam em dinheiro" constata Cyrille Bilo'o, um fã de Camarões.

A primeira reação da maioria desses fãs é a vontade de renovar a equipe. "É preciso recomeçar do zero, dissolver esta equipe e montar outra. Eu acho que a geração atual envelheceu. É necessário uma nova equipe mais jovem", diz Pierrot Eyango, outro torcedor.

"A derrota me machucou muito. Camarões tem vários jogadores talentosos, que precisam só de uma chance para aparecer. São eles que nós queremos. Não queremos mais o grupo do Eto'o. O hora deles passou. Não têm mais nada a provar", acrescenta Claude Yene Zang.

Outro camaronês, Michel Ondigui, conta que "os Leões nos fizeram chorar. Desde 2010, não conseguimos mais obter bons resultados com esta equipe. Para mim, precisamos mudar todos, incluindo o ministro dos esportes".

"Desde 2010 nós entramos em crise total. Todos sabem que a equipe tem muitos problemas mas ninguém toma a iniciativa para resolvê-los. Nós fomos para esta Copa do Mundo com antecedentes de problemas não resolvidos que deixaram sequelas. Era evidente que em algum momento isso iria explodir como aconteceu" analisa Jules Nyongha, antigo técnico dos Leões Indomáveis.

Entre os problemas que minam a seleção, ele cita o ego desmesurado de certos jogadores que se negam a seguir regras, o desentendimento, a divisão e a falta de coesão entre os jogadores.

No final da partida contra a Croácia, viu-se dois jogadores camaroneses brigar dentro do campo. "Ali foi o limite", exclamou o técnico Nyongha. "Eu acho que os jogadores estavam fartos. As equipes que são mal preparadas se exprimem com a violência. Nós fomos verdadeiramente fundo", disse ele.

Para que o Camarões volte a ser a grande nação do futebol dos anos 1990, Jules Nyongha propôs como solução "uma espécie de cura através da humildade. Precisamos reconhecer que fomos muito fundo. Agora, devemos arregaçar as mangas para sair do buraco. Se nós não trabalharmos, não conseguiremos sair de lá", conclui ele.

O ex-técnico da seleção de Camarões também acha que é preciso começar do zero, construir estruturas que permitam o desenvolvimento do futebol e sobretudo retomar com seriedade as atividades entre o Ministério dos esportes e a Federação Camaronesa de Futebol.

Tradução GIOVANNA SALERNO

Editoria de Arte/Folhapress

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